TEXTO Idiana Tomazelli
Crescimento. Essa é a palavra-chave que define as expectativas do presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro, João Carneiro, para a 56ª Feira do Livro de Porto Alegre, que acontece de 29 de outubro a 15 de novembro. Em coletiva de imprensa realizada na manhã desta quarta-feira, ele anunciou previsões de público 20% maior em relação ao ano passado – o que significaria mais de 1,7 milhões de pessoas –, além de um aumento de 15% nas vendas, recuperando a queda ocorrida em 2009.
Após especulações sobre uma possível alteração de lugar, Carneiro confirma que a Feira do Livro “segue sendo a Feira da Praça da Alfândega, do Centro Histórico de Porto Alegre”. Ainda assim, as reformas do Projeto Monumenta, que começaram no início do ano – e que pretendem resgatar os ares que a Praça tinha na década de 30 – vão provocar algumas mudanças. O trecho entre a Rua Sete de Setembro e a Rua dos Andradas permanecerá isolado. A ligação será feita pelas duas vias laterais de acesso, que circundam a praça, e por uma passarela central construída especialmente para o evento. É o que diz João Carneiro:
[audio:joao.mp3]Apesar das obras e do isolamento, a Feira cresceu em termos de espaço. Segundo a Câmara, são mais de 24 mil metros quadrados, entre a Praça e o Cais do Porto, onde estarão 155 expositores divididos em três áreas: Geral, Infantil e Juvenil, e Internacional. Um dos atrativos ao público são os descontos oferecidos na Feira: mínimo de 10%, com média chegando a 30%.
Além de preços mais baixos, a Feira do Livro promete uma programação com destaques nacionais e internacionais. Durante os 18 dias, serão aproximadamente 700 sessões de autógrafos, mais de 180 palestras e debates, mais de 450 encontros, contações de histórias e outros eventos voltados ao público infantil e juvenil, 103 atividades para educadores, 30 oficinas e 88 apresentações artísticas e exibições de filmes e documentários.
Entre os convidados, o norte-americano Benajamin Moser, biógrafo de Clarice Lispector, e a escritora portuguesa Inês Pedrosa, que lança sua mais recente obra, “Os Íntimos”. Do cenário nacional, o jornalista Ricardo Kotscho fala sobre seus 45 anos de carreira, e Luis Eduardo Soares, autor de “Elite da Tropa 2”. A programação completa pode ser conferida no site oficial.
Direto do Cerro Chato, o patrono das campereadas
A coletiva de lançamento da Feira do Livro também contou com a presença do patrono desta edição, o folclorista Paixão Côrtes. Vestindo paletó verde e camisa vermelha, combinando com o boné xadrez, exibia nas mãos trêmulas o mesmo sentimento de quando foi convidado, por telefone, a concorrer ao posto. “Levei um tombo no sufragante”, resume em expressão regional.
A decisão de aceitar muito teve a ver com sua ligação com a Feira do Livro desde os primórdios. Em 1957, participou da 3ª edição do evento como feirante, juntamente com o amigo Humberto Lopes. As recordações foram retratadas em uma foto, na qual ambos eram cumprimentados pelo então governador Ildo Meneghetti.
Com as raízes cravadas no Cerro Chato, em Santana do Livramento, Côrtes exalta com voz alta e firme sua disposição física e psicológica para enfrentar a maratona – o patrono enfrentou alguns problemas de saúde recentemente. “Me criei campo afora, na cidade as distâncias são bem menores. A Feira do Livro é café de chaleira para quem é habituado a grandes campereadas. Estou psicologicamente preparado. Fisicamente, estou consultando meu marcapasso”, diverte-se. Para ele, sua nomeação também ajuda a valorizar do folclore, antes visto com certo preconceito. “Era difícil achar editores que se dispusessem a publicar livros referentes às grossuras do Rio Grande”, conta com humor. E fala mais:
[audio:paixao.mp3]Em tempos de tecnologias tão avançadas, o resgate do folclore na figura do patrono vai ao encontro da intenção da Câmara de “fazer com que o público tenha um olhar diferenciado, não limitado somente aos livros da primeira fileira”. Luiz Coronel, diretor da Agência Matriz – responsável peça campanha publicitária – cita José Saramago para resumir o espírito da Feira: “Ainda é possível verter lágrimas sobre as páginas de um livro. Não sei se serei capaz de chorar apertando botões eletrônicos”. Se Saramago estivesse vivo e em Porto Alegre em 29 de outubro, teria muitos motivos para chorar.