Fotos: Felipe Valle
Cláudio Levitan é um artista: músico, escritor de livros infantis, cartunista, ilustrador, mas também é um arquiteto formado. Atualmente ele está mais dedicado aos palcos musicais e ao seu grupo “Levitan e os Tripulantes”. Encontramos com ele em sua casa, em Porto Alegre, para conversar sobre a sua vida artística, entre discos, livros, obras de arte e canções ao violão.
Nonada – Músico, escritor, cartunista, ilustrador, tu tens muitas atividades artísticas, mas qual é a tua formação profissional?
Levitan – Eu sou formado em arquitetura. Na verdade, eu cursei arquitetura e filosofia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Mas, na filosofia fiquei apenas um semestre. O que aconteceu é que na época, em 1969, a ditadura militar entrou de forma muito violenta na Faculdade, praticamente retirando todos os bons professores de filosofia. Aquilo acabou me frustrando muito, acabou com a minha expectativa do curso. Então, acabei ficando apenas na arquitetura.
Levitan – Sim, eu enxergo. Quem primeiramente me chamou a atenção para isso foi Ivaldo Roque, meu professor de violão, que dizia que “a arquitetura e a música f funcionam da mesma forma”. Num primeiro momento eu não consegui entender isso direito. Mas, quando nós gravamos o meu disco “A Minha Longa Milonga”, eu percebi perfeitamente essa ligação nos arranjos. O baixo e a bateria formam a base da construção das músicas e são como as fundações de uma casa na arquitetura. Depois, vêm as harmonias, que são como as paredes. Os metais e a voz são os complementos finais, assim como as janelas e portas da casa. Tanto a música quanto a arquitetura precisam desse pensamento de construção.
Nonada – Tu trabalhas cada uma das tuas facetas artísticas de forma separada ou pensa em conjunto como um único artista?
Levitan – Cada trabalho meu tem uma demanda diferente, mas todos passam por um processo, uma lógica de criação. Isso foi uma das coisas que aprendi na Faculdade de Arquitetura, a noção de que tudo que vai ser feito precisa, antes de tudo, ter um projeto elaborado. Seja uma casa, seja um livro, seja uma música, seja uma ilustração. Claro que cada processo de criação passa por caminhos diferentes, mas eu sempre tenho uma visão global do que eu pretendo fazer. Um dos pontos importantes de qualquer criação minha é a leitura dos elementos que eu quero que estejam presentes dentro de cada obra. A partir da colaboração desses elementos é que se chega ao produto final.
Nonada – Criar música é o trabalho que tens maior facilidade para desenvolver?
Levitan – Na verdade, não diria que tenho facilidades, pois em todas as áreas que atuo me sinto um amador, alguém que está sempre conhecendo e experimentando e que tem a coragem de criar algo novo. Mas, me encontro numa fase da vida em que a música é um prazer maior. Estou mais dedicado a ela no meu momento atual.
Nonada – O teu projeto “Levitan e os Tripulantes” é diferenciado do que tu já havia feito na música. Ele é bem mais marcado pelo Rock…
Levitan – Trabalhar com o Rock’n’Roll era uma vontade minha muito antiga. O Rock me fascina, pois é uma música mais libertária, que tem uma força atraente. Eu larguei o violino quando conheci os Beatles e a guitarra. Então, não vejo o Rock como algo estranho, como uma música “alienígena”. Essa é a proposta do projeto dos “Tripulantes”: não há música que seja diferente, “alienígena”, não deve haver cultura, como um todo, que seja considerada estranha. É por isso que acredito que a cultura não existe para ser “preservada”, e sim para ser executada, transformada e vivida.
Nonada – Já ganhaste muitos prêmios pelos teus trabalhos, inclusive o prêmio Açorianos. O que tu achas destes reconhecimentos?
Levitan – Os prêmios são bons para divulgar os artistas e suas obras. Eles não são fundamentais, mas servem como uma referência para o nosso trabalho. Esse reconhecimento sempre é gratificante, no entanto a existência do artista não depende disso, ninguém deixa de ser músico ou escritor porque não é premiado. Acho importante ressaltar que o Prêmio “Açorianos” é especial, pois é uma premiação que a cidade dá aos seus valores. Isso valoriza não somente o indivíduo, mas toda a categoria de artistas da cidade, ou seja, é a música que está sendo homenageada através daquele prêmio.
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