“Itinerário de Rosa” de Luiz Carlos Borges

Luiz Carlos Borges - Itinerário de Rosa: da obra de Apparício Silva Rillo

Deixo aqui o meu manifesto neste dia 20/09, uma data tão especial para o estereótipo gaúcho de comemorar uma guerra derrotada e elitista, mas que mesmo assim é capaz de causar um grande fascínio na alma deste que vos escreve.

Hoje remexi os CD’s gaudérios de meu pai, e acometido por uma doença – o que sempre me deixa muito sensível – fui buscar um que nunca havia apreciado. Eis que encontro um disco de 2008, gravado pelo genial Luis Carlos Borges, entitulato Itinerário de Rosa, que é um livro de poesia de um dos maiores ícones da literatura tradicionalista: Apparício Silva Rillo.

Logo que coloquei os olhos no disco e vislumbrei ambos nomes, me tomei de curiosidade e resolvi ouvir a obra. Itinerário de Rosa conta a história de uma menina – a Rosinha -que nasce no interior e lá cresce em meio ao puritanismo dos pais e sob os olhos cuidadosos e gargantas ácidas da comunidade ao seu redor. Rosinha se apaixona por um “gaudério”, e com ele parte para a cidade. Porém este a abandona, e Rosinha tem que viver com o único patrimônio que este homem lhe deixou – seu corpo. O disco segue contando a história de Rosa – que outrora se chamava Rosinha – com todo o lirismo de Rillo e maestria na composição e musicalização de Borges.

O disco reune 17 canções que aglutinam poemas do livro. Apesar da métrica de alguns poemas desafiar a música, Luiz Carlos Borges dribla muito bem este desafio com repetições e com o uso de uma gaita suave e muito bem remixada. O disco se completa, como se fosse uma grande ópera. Não há espaços vazios no disco. Em boa parte isto se justifica pelo fato de ter sido um esforço de 25 anos do músico, que conseguiu agregar o melhor da tecnologia de gravação do nosso estado e juntar nomes com a qualidade de Vitor Ramil para ajudar nas composições.

Eu saí com lágrimas nos olhos ao final de “Ressurreição”, última música do disco. Uma obra que potencializou a sensibilidade de Rillo e que deu uma nova vida à “Rosa”. Pena que Aparício morreu antes de ouvir a sua obra, mas graças a Deus Borges fez ela chegar aos nossos ouvidos. Edison Campagna continua sendo o mestre artístico da ACIT (gravadora do disco), o que garante uma qualidade sonora excelente. De linguagem acessível, sem gauchismos exagerados e artificiais (que é o que ocorre com frequência nos emocionados bombachudos de hoje – ao menos aos que resistem a “Tchê Music”) esta obra pode não ser uma porta de entrada para o obra de Borges, que é mais facilmente digerível com suas lindas canções clássicas Romance na Tafona e Tropa de Osso. Itinerário de Rosa possui também fotos de grande valor estético, além de ilustrações e a sempre bem-vinda contextualização da história de cada disco feita pelo músico.

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