Como manter a imparcialidade jornalística ao analisar um show em que você não consegue conter as lágrimas? Desisti dessa utopia, que dificultaria ainda mais a missão de fazer uma resenha do show de Paul McCartney em Porto Alegre. Aliás, desisti de fazer uma resenha por assim dizer, preferindo considerar este texto apenas um breve relato sobre o que muitos de nós pudemos presenciar no último domingo, 7 de novembro, no estádio Beira-Rio.
O setlist vocês podem procurar em qualquer site, inclusive no do próprio Paul. Histórias de fãs também, como detalhes sobre as meninas que tiveram a felicidade de subir ao palco, abraçar o ídolo e ver seus braços autografados para uma inesquecível tatuagem. E aqui mesmo, no Nonada, podem conferir uma resenha bastante completa do nosso editor-chefe, Rafael Gloria, com todas as nuances da apresentação.
Eu me limito a dizer que, com 16 anos de shows internacionais nas costas, nunca, nunca havia chorado na pista. Eu disse NUNCA. Já tive a chance de assistir várias das minhas bandas favoritas, algumas que já encerraram as atividades até, mas não havia chegado a esse ponto. Os olhos marejaram quando Macca dedicou “Here Today” a Lennon. E o choro veio compulsivo em “Something”, homenagem a George Harrison, e, na minha humilde opinião, a mais linda balada da história. “Let it Be”, “Blackbird”, “Hey Jude”, “Eleanor Rigby”, “A Day in the Life”… Enfim, não faltaram momentos em que a emoção falou mais alto do que eu poderia imaginar.
Como ex-beatle, Paul McCartney tinha o direito de vir aqui e fazer uma apresentação burocrática, de uma hora e pouco, dar tchauzinho e faturar uma grana, que mesmo assim deixaria muita gente feliz. Mas não. Além de ser uma das maiores personalidades do século XX (mais importante do que qualquer Papa, como comparou o jornalista Paulo Moreira, em entrevistaao Nonada), o homem é extremamente simpático. Esforçou-se para falar português e “gauchês” na maior parte do show. Não demonstrou sinais de cansaço em nenhum instante, mesmo sem tomar um gole d’água durante as quase três horas de apresentação. Isso aos 68 anos!!! Quanta bandinha bunda mole e arrogante temos que aturar por metade desse tempo e sem 1% dessa competência…
Ok, simpatia e currículo são importantes, mas Macca vai muito além disso. Multi-instrumentista e dono de uma belíssima voz, o cara nos faz pensar que aquele preço que pagamos pelo ingresso, que parecia ser bastante salgado, é uma mixaria.
E o repertório? Sem comentários. Simplesmente maravilhoso. É claro que ele precisaria tocar mais umas três horas – no mínimo – para agradar a todos, mas o set apresentado em Porto Alegre não deixou nada a desejar, abrangendo sua carreira solo (com ou sem Wings) e, claro, os Beatles. Aliás, quem acha que John era o “cabeça” da banda, como ouvi de um sujeito, dois dias antes do show, na Redenção, é bom lembrar que quase todas as canções tocadas no Beira-Rio são de Macca – algumas em co-autoria com Lennon.
Obrigado, Paul, não apenas pelo magnífico show com que nos agraciaste no domingo, mas por tudo o que tens feito em quase meio século de boa música. E de uma coisa podes ter certeza: vão passar dias, meses, anos e décadas, mas as lembranças do dia 7 de novembro de 2010 ficarão eternizadas para sempre na nossa memória e em nossos corações.