Quando as guitarras falam mais alto

Fotos: Fernando Halal ((halalson@yahoo.com.brhttp://www.flickr.com/fernandohalal)

Música instrumental não é um negócio muito palatável aos ouvidos do público médio de rock. E se você não é admirador de demonstrações gratuitas de velocidade (tipo um olha-como-eu-sou-fodão, a la Yngwie Malmsteen), esse nicho se reduz a meia dúzia de bandas. Felizmente, no Brasil o rock instrumental vem sendo perpetuado por especialistas em compor belas melodias, simples e ao mesmo tempo elaboradas. E isso parece estar agradando um público diferente do que é comumente visto nesse tipo de show – geralmente outros músicos. Prova disso é a lotação da casa noturna VerdeClub no dia 25 de novembro, uma quinta-feira, para ver duas das melhores bandas do estilo: Pata de Elefante e Retrofoguetes.

Retrofoguetes, com o endiabrado baixista CH Straatmann à frente, ganharam novos fãs em Porto Alegre

Quem subiu ao palco primeiro foi o trio baiano. Pouco conhecidos por aqui, Morotó Slim (guitarra), CH Straatmann (baixo) e Rex (bateria) deixaram o palco com a certeza de ter arrebanhado novos fãs em Porto Alegre. O som dos Retrofoguetes é eclético (uma mistura de estilos diversos como surf music, bolero e polka) e cativante (impossível ficar indiferente a maravilhas como “O Espetáculo Continua no Circo” e “Um Diabo em Cada Garrafa”). Os músicos, além de terem uma qualidade técnica inquestionável, ainda agitam muito no palco, com destaque para o insano (no bom sentido) CH, que, com seu chapéu de cowboy, parece uma mistura de Kid Rock com Al Jourgensen (Ministry). Vestidos com macacões idênticos, os caras não esqueceram de tocar “Asteróide Fantasma”, trilha sonora de um comercial que faturou o Leão de Bronze em Cannes. Ainda teve espaço para “Misrlou”, clássico de Dick Dale resgatado em Pulp Fiction.

Um dos principais nomes do rock instrumental no país, Pata de Elefante fez um belo show no Verde Club

Com um número considerável de seguidores, a Pata de Elefante mostrou porque vem recebendo elogios rasgados da imprensa musical brasileira. Daniel Mossman (guitarra e baixo), Gabriel Guedes (guitarra e baixo) e Gustavo Telles (bateria) começaram a apresentação com seu primeiro sucesso, “Soltaram”. O público ficou em êxtase ao fazer coro aos raros vocais de “Hey”, do segundo álbum, Um Olho no Fósforo, Outro na Fagulha. Essa música, aliás, é uma das mais contagiantes canções instrumentais já compostas, agradando até mesmo a quem não tem o menor interesse por rock. O setlist, como não poderia deixar de ser, trouxe várias faixas do atual trabalho dos caras, o excelente Na Cidade, como “Grandona”, “Pesadelo no Bambus” e “Sai da Frente”. Na parte final do show, a tradicional troca de instrumentos, mostrando a versatilidade dos músicos da Pata.

Show acabou em clima de celebração, com os dois grupos improvisando um cover de "Deu pra Ti", de Kleiton e Kledir

 

Quando tudo parecia se encaminhar para o fim, gaúchos e baianos se juntaram no palco em uma jam session de arrepiar. Os caras mostraram um pouco de suas influências, misturando clássicos de Stray Cats (“Stray Cat Strut”) e Surfaris (“Wipe Out”). Mas se essas músicas são um tanto óbvias para os amantes de surf music e rockabilly, um cover inusitado surpreendeu todo mundo logo depois: “Deu pra Ti”, de Kleiton e Kledir. A maior surpresa não foi o batera Rex cantar, mas o evidente improviso – ficou na cara que os integrantes da Pata ensinaram os acordes e a melodia vocal aos Retrofoguetes em questão de segundos. De qualquer forma, o resultado foi bem melhor do que o esperado em uma situação dessas. E, nesse clima de festa, as duas bandas encerraram uma noite de celebração ao (bom) rock instrumental, provando que há, sim, público interessado em ouvir músicas sem voz, desde que elas não sejam um entediante exercício de autoindulgência.

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