TEXTO Juliana Palma
Enquanto os cinemas de Porto Alegre transbordam de pessoas na fila para assistir aos filmes em cartaz, as peças continuam sem encher os teatros da Capital durante o ano. Mesmo com a pouca procura, vemos em todas as temporadas os ingressos para o Porto Alegre em Cena se esgotarem com muita antecedência. E não só isso. Quando aparecem por aqui espetáculos de fora do Estado trazendo atores famosos do centro do país, as pessoas lotam a plateia a fim de vê-los atuarem.
A falta de interesse pelas peças locais, principais prejudicadas na atração do público, nasce de vários motivos. Entre eles, a carência de incentivo desde cedo na formação escolar é o que mais conta, pois se a criança convive com o teatro, é natural que, quando cresça, passe a apreciar esse tipo de arte. Além disso, a falta de divulgação por parte da mídia e os problemas estruturais nos locais de realização – como escassez ou ausência de estacionamento – das peças também contribuem para afugentar um público que já está distante.
Sobre isso, o Nonada conversou com dois membros da classe teatral de Porto Alegre. O ator e diretor, Zé Adão Barbosa, também fundador do TEPA – Teatro Escola de Porto Alegre, e Luciana Rossi, atriz desde 1998 com formação no próprio TEPA, e com atuação desde 2003 na Santa Estação Cia de Teatro, e professora de teatro na escola Estação Musical.
O primeiro passo para um retorno satisfatório no futuro é incluir, gradativamente, o teatro no ambiente infantil: a escola. Com esses primeiros contatos, as crianças certamente terão mais conhecimento sobre o assunto e desenvolverão respeito e interesse. De diversas formas o teatro nas escolas pode ser positivo, não apenas para divulgar a arte. Ele mexe com a perda da desinibição, traz o trabalho em grupo, o respeito ao colega, aguça a criatividade e instiga o autoconhecimento. Luciana diz perceber que as crianças que fazem teatro acabam se tornando o público que frequenta o teatro quando crescem. “Também vejo que a comunicação pode ser mais rápida e direta às crianças, que se pode ensinar outras matérias da escola a partir do teatro. Assim, elas enxergam e vivenciam o que está no papel”, explica.
Quando se fala de público, é discrepante a diferença de espectadores que teatro e cinema recebem, pelo menos em Porto Alegre. São propostas diferentes, é claro, mas o cinema sempre possui muito mais audiência. Zé Adão conta que o teatro é uma experiência única e não se compara ao cinema, que é distribuído em centenas de cópias. “O encontro do espectador com o ator se dá apenas naquele momento, as respirações, os climas, os desconfortos, os encantamentos se dão apenas neste momento sagrado”.
As pessoas são curiosas, e são atraídas por novidades. As peças que possuem algo inovador, diferencial em relação às outras, têm mais chances de seduzir o público. Mas apenas isso não vai fazer com que os espectadores se interessem de uma hora para outra pelo formato do teatro. Sobre isso, Zé Adão é enfático: “É preciso investir em mídia”. O teatro necessita da divulgação, principalmente na televisão, que é o meio mais utilizado. É um círculo vicioso, entretanto. Sem público, não há dinheiro. Sem dinheiro, não há divulgação. Sem divulgação, não há público.
Em Porto Alegre, nem todos os locais que abrigam as peças possuem os requisitos que o público em geral exige: ausência de estacionamento ou os próprios lugares onde os teatros estão situados. Segundo Luciana, o Teatro Renascença, que é um dos melhores teatros municipais, sofre com constantes reclamações por ficar em uma zona considerada perigosa e por ter um estacionamento muito pequeno, onde há roubos e arrombamentos de carros durante as peças. “Existe reclamação acerca do Teatro de Arena, que fica no viaduto da Borges de Medeiros, pois há dificuldade de se chegar até lá e de se estacionar. E também a Usina do Gasômetro, que tem estacionamento ao ar livre e pouca movimentação na parte da noite”, afirma.
Já Zé Adão não acredita que esses pequenos problemas influenciem tanto na decisão de ir ou não ao teatro. “Falta de estacionamento não faz o público deixar de freqüentar os bares da Cidade Baixa e outros pontos boêmios da cidade. É muito complicado falar de cultura num país que não tem uma educação relevante”, declara. E completa: “O hábito de buscar cultura no teatro, na música, na dança, na literatura é de uma fatia muito pequena da população. A maior parte prefere gastar seu dinheiro em bares e outros eventos”.
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