Qual a função de um congresso de jornalismo? Trata-se, sobretudo, de uma chance de reflexão do fazer jornalístico, de se ouvir profissionais da área que divergem em idéias e de se discutir. Mesmo que não se leve a nenhuma resolução imediata (poucas discussões geram respostas rápidas) é totalmente válido – e necessário – ter um ponto e um contraponto de uma ideia. E isso é o mínimo que se espera de um congresso de Jornalismo Cultural, uma área, em tese, destinada para se pensar a cultura, a sociedade e a cidadania. Felizmente a plateia, composta por sua maioria de estudantes de jornalismo e jornalistas, pôde presenciar discussões desse nível pela manhã do terceiro dia do III Congresso Internacional de Jornalismo realizado no Teatro do SESC Vila Mariana em São Paulo na palestra dedicada a discutir a produção contemporânea e a crítica especializada no Teatro.
Os convidados foram muito bem selecionados para refletir sobre tais temas, assim como os mediadores. Eram eles: os diretores de teatro Felipe Hirsch e Marco Antonio Rodrigues, o jornalista e crítico de teatro Jefferson Del Rios e, na mediação, o ator e diretor de teatro Oswaldo Mendes. Interessante porque se reuniu aí, basicamente, as duas partes da cadeia, o diretor de teatro aquele que está produzindo a obra cultural, e o jornalista e crítico, aquele que vai divulgar, ou criar um pensamento em cima da obra. Logo, o embate aberto entre esses dois tipos produtores gera um diálogo diferenciado.
A mediação de Oswaldo Mendes, que é, na verdade diretor e ator, mas já atuou como jornalista foi um exemplo de como deixar a palestra fluir e também levantar as suas questões para o público. Marco Rodrigues contribui no sentido de trazer a discussão mais para o campo teórico, muito crítico com o campo cultural no Brasil apontou que há um “barateamento de pensamento” generalizado e que todos nós somos responsáveis por isso.
Mas o destaque vai para para Felipe Hirsch que comentou a sua relação com a imprensa; ele dividiu em fases traçando um panorama crítico e coerente de como as informações de uma peça chegam ao jornal. “Começa quando nós temos que explicar nossa obra para o jornalista, é complicado, por isso há o release em que uma assessora de comunicação ajuda a fazer – mesmo assim não consegue passar tudo da peça”. Depois, ele lembra que o jornalista tem mais várias pautas para fazer quando recebe o release, e que ainda há a figura do editor que pode cortar parte da matéria. “Tem o caso também de ter que ‘vender’ a peça de forma diferente conforme cada jornal, para que seja publicado também na concorrência”, esclarece. Felipe terminou ainda comentando que acha muito importante o trabalho da crítica, mas que acha que é um lugar no jornalismo banalizado atualmente e que o público não lê. “Respeito a crítica, mas não a maioria dos críticos de hoje”, diz. Ele ressaltou também um caso que aconteceu com a sua peça Pterodátilos, onde uma jornalista deu a falsa informação relativa ao valor de arrecadamento da peça. Mais um ponto a favor de sua fala: a discussão do teatro englobou toda a questão básica da mediação no jornalismo.
É aí que entra a figura de Jefferson Del Rios, um dos “críticos em extinção”, como ele se autodenomina. Mais do que um crítico de teatro, ele também foi um jornalista voraz, realmente “pegava no batente” e “trabalhava na rua”, como ele, mais uma vez, afirmou. Foi editor do caderno de cultura do jornal Estado de São Paulo, onde atualmente só mantém a coluna de crítica. Aliás, disse não depender mais do jornalismo para se sustentar. “Eu tenho outros meios de vida, não precisaria estar escrevendo críticas ainda”, diz. Contudo ele faz a defesa da boa crítica, e que o público ainda a lê. “Sei por dados de pesquisa que o Estado mantém que uma parcela das pessoas lêem a crítica”, diz. E defende que a crítica seja apaixonada, o crítico, para ele, não deve não deve exercer a prepotência e sim o diálogo com a obra do artista. Nunca falar da pessoa do artista também parece ser uma regra. “Não se deve debater personalidades, e sim o conteúdo da obra, para isso é necessário pesquisa, conhecer a história daquele diretor”, afirma. Jefferson diz que não deve se alimentar ódio ou rancores na relação entre os artistas e os jornalistas ou críticos. “Divulgar mais a paixão pela arte do que o ódio faz criar mais apaixonados pela arte”. E quem somos nós para negar?