Texto: Daniel Sanes
Fotos: Fernando Halal e Júlia Schwarz
Terça-feira, 12 de julho
O dia mais b-side do GIG Rock foi o penúltimo. O cast era “obscuro”, com mais bandas novas do que renomadas do cenário musical do Rio Grande do Sul, mas nem por isso o resultado em cima do palco foi pior. A Nunca mais Brigitte, com seu competente rock bubblegum claramente influenciado pelos anos 60/70, abriu os trabalhos diante de um público pequeno e que não aumentaria muito até o final da noite. A Loomer veio logo depois, apresentando uma guitarreira suja tipo Pixies e Sonic Youth. A plateia ainda era acanhada, mas deu pra perceber que curtiu bastante o som pesado do quarteto.
Juli Manzi, hoje radicado em São Paulo, voltou a Porto Alegre para apresentar seu novo projeto, o Coletivo Absoluto. Mesmo com certo nome na cena indie do estado, o cara é pouco conhecido por aqui, o que é uma pena, levando em conta a interessante salada musical que propõe, juntando elementos de vários estilos e fundindo-os em um rock’n’roll de respeito. O show ainda contou com o reforço do onipresente Carlinhos Carneiro, da Bidê ou Balde.
A noite terminou com Júlio Reny e os Irish Boys. O veterano compositor não teve dificuldades para cativar o público com algumas das mais conhecidas músicas rock gaúcho, como “Amor e Morte”, “Jovem Cowboy” e “O Mundo é Maior que o teu Quarto”. Simplesmente um clássico.
Quarta-feira, 13 de julho
Dia Mundial do Rock, festa open bar no subsolo (depois, Frank Jorge, curador do festival, anunciou que a bebida estava liberada para todo mundo!) e bandas bastante conhecidas. Enfim, não faltaram motivos para que o Beco lotasse na derradeira noite do GIG Rock. Sem exageros, a casa teve um público semelhante ao da noite em que o Television tocou.
Quem esquentou a noite foi a Badhoneys, uma espécie de “irmã” da Loomer pela proposta: garage rock e noise, com uma forte influência dos anos 90. Depois de um ótimo show, a banda teve uma surpresa desagradável: algum espertinho roubou a bolsa da vocalista e guitarrista Giana Cognato, onde estavam as cópias do single promocional que o grupo lançava naquela noite. Lamentável.
A Pata de Elefante mostrou, mais uma vez, que o rock instrumental pode, sim, ser acessível. Os riffs do trio são tão grudentos que, mesmo não tendo letras, as músicas são “cantadas” pela massa do início ao fim. Como sempre, o baterista Gustavo Telles incitou o público a gritar a única palavra de “Hey!” e ainda protagonizou algo insólito: a banqueta em que ele estava sentado rachou após a segunda música. Puro rock’n’roll…
Se alguém tinha dúvidas em relação à popularidade dos Cartolas, elas terminaram com o show dos caras no GIG Rock. De “O Rabugento” a “Retardado Sentimental”, todas as músicas da banda foram cantadas em uníssono pela plateia. E ainda teve espaço para dois covers distintos, mas que retratam as diversificadas influências da banda: “Sheena is a Punk Rocker”, dos Ramones, e “Jorge Maravilha”, de Chico Buarque, que de forma alguma quebrou o clima rocker da noite.
Aliás, o último show do GIG não foi 100% rock, mas nem por isso deixou de ser sensacional. Tonho Crocco obrigou até mesmo os roqueiros mais radicais a dançarem com seu som fortemente influenciado pela black music, em uma apresentação que fez tremer – literalmente – o piso do Beco. Dizendo não viver do passado, o cara preferiu priorizar a carreira solo, mas é claro que teve espaço para algumas músicas da Ultramen (“Dívida” e “Peleia” agitaram até os seguranças da casa). Dois grandes momentos do show foram surpreendentes: a presença de ninguém menos que Gerson King Combo, que veio à capital para tocar um dia após o GIG – e mandou ver em “Sex Machine”, de James Brown”, e na sua “Funk Brother Soul” -, e a execução de “Amigo Punk”, da Graforréia Xilarmônica”, sem Frank Jorge. A pergunta que não quer calar: onde estava o cara quando foi chamado ao palco por Tonho para cantar seu maior clássico? O músico marcou presença em todas as noites do festival e se encontrava próximo ao palco durante o show de Tonho Crocco, mas simplesmente evaporou de uma hora para outra!
Considerações finais
Sem dúvida nenhuma, o GIG Rock 2011 foi um dos melhores. O maior mérito desta edição do festival foi a capacidade de se expandir para os dois lados: o dos pequenos – dando espaço para bandas praticamente desconhecidas – e o dos grandes – incluindo no cast um grupo do porte do Television.
Deficiências? Sim, ocorreram algumas, e não é birra de jornalista, não, foram situações constatadas em conversa com várias pessoas ao longo dessas sete noites. Uma delas é: por que não vender um passaporte para todos os dias? A duração do evento também foi um dos motivos de não haver lotação máxima todas as noites; afinal, uma semana de shows não é fácil de acompanhar, ainda mais para quem acorda cedo. Isso para não falar no aspecto financeiro… Por fim, a ordem e a mistura das bandas poderia ter sido melhor distribuída, já que algumas noites tiveram várias atrações renomadas (como a última), enquanto outras careceram de nomes fortes para levar um público significativo ao Beco.
Feitas essas ressalvas, o GIG Rock foi um sucesso, com grandes shows e uma bela mostra do que a cena musical gaúcha vem produzindo. E, mais do que isso, reforçou que é nos festivais que as bandas e público se conhecem e aprendem que a batida frase “a união faz a força” ainda tem algum significado nos dias de hoje.
Confira o que rolou nas primeiras noites do festival aqui e aqui
Aeee! Grande Daniel Valeu pela matéria! So pra informar que a minha bolsa já foi recuperada e estamos com os singles intactos aqui! Obrigada à toda equipe do beco que foi muito legal comigo nessa hora! FOI LINDO O GIG! =)