Texto: Leila Ghiorzi
Fotos: Mariana Gil
Com a pista superior do Beco 203 abarrotada, A Banda Mais Bonita da Cidade tocou pela primeira vez em Porto Alegre na sexta-feira, dia 19. No público, alguns curiosos pela mais recente febre “internética”, outros apenas pelo social do evento. Os cinco integrantes – Uyara Torrente (vocal), Vinícius Nisi (teclado), Rodrigo Lemos (guitarra), Diego Plaça (baixo) e Luís Bourscheidt (bateria) – pareciam bem à vontade, impressão que eles fizeram questão de afirmar com frases de ordem como “Vamos lá, Porto Alegre” e “Nós já queremos voltar”, logo no início do show, que teve abertura da banda gaúcha Lepata.
Apelando para o bairrismo local, Uyara apresentou o conjunto – coisa que, segundo ela, nunca tinha sido feita – com destaque para o baterista Luís, gaúcho de lajeado. Com músicas próprias, de amigos e uma versão inesperada para uma música popular, o espetáculo dividiu opiniões, o que, no entanto, não fez a lotação na frente do palco diminuir em nenhum momento da apresentação.
Já nas primeiras canções, a vocalista, que se mostrou afinadíssima, arriscou mais uma piada bairrista em “Mercadoramama”, sem sucesso. Em vez de completar o verso que dá nome à canção, Uyara cantou “Mercadofazari”, pra espanto de todos, inclusive dos instrumentistas. Uma versão de “Romance de uma Caveira”, de Alvarenga e Ranchinho, com o cenário fracamente iluminado, revelou que a banda tem influências bem inusitadas. Tão inusitadas que muitos dos fãs acreditaram que a música era original d’A Banda Mais Bonita da Cidade, que não fez questão de desfazer a confusão. No entanto, quem já assistiu a alguma apresentação teatral da dupla Tangos e Tragédias já estava familiarizado com a canção.
Na sequência, a emoção tomou conta do Beco 203, com “Solitária”, “Canção pra não voltar”, “Boa pessoa”, “Nunca” e “Se eu corro”. Todas com temáticas românticas, características do grupo, executadas com delicadeza pelos cinco integrantes da banda, formada em 2009. Como não podia deixar de ser, a música mais esperada da noite encerrou a primeira parte do show. “Oração”, que já possui mais de sete milhões de visualizações no Youtube, fez as pessoas presentes irem à loucura e recitarem os oito versos da melodia chiclete durante dez minutos ininterruptos. Reproduzindo o clima do clipe, Rodrigo regia o a bagunça e alternava momentos de calmaria e de euforia durante a repetição das frases.
No bis, “A Balada da Contramão” e repeteco de “Mercadoramama”, desta vez com a piada certa, feita pelo guitarrista, que soprou o engano no ouvido de Uyara. A cantora se limitou a gargalhar e deixou-o terminar a música ao som de Mercado Zaffari, que arrancou aplausos da platéia. Muito sorridentes, os integrantes da banda de nome inspirado em um conto de Charles Bukowski, A Mulher Mais Linda da Cidade, se despediram dos fãs prometendo voltar.
Apesar de músicos competentes, nem todos os presentes apreciaram a exibição. “É música de guria”, um dos garotos presentes na platéia afirmou, com desdém, para um amigo. Enquanto isso, a poucos metros, uma jovem gritava à vocalista “gostosa”, no que era apoiada pelos amigos. Essa cena, apesar de meio caótica, retrata bem o clima: aprovação e frenesi dos admiradores que já conheciam a banda, desaprovação dos desavisados que foram ao show apenas pela canção mais famosa.