Fotos: Fernando Halal
Quem realmente gosta de música sabe que a qualidade de um show não se mede pela quantidade de efeitos especiais ou pelo tamanho do palco. Se o som não for bom, não há produção que salve.
E foi com um show simples, sem uma megainfraestrutura por trás, que o Metronomy cativou os gaúchos nesta quinta-feira, 1º de setembro. Incensado pela mídia alternativa como uma das melhores bandas surgidas nos últimos anos no cenário indie, o grupo britânico se apresentou em Porto Alegre para um público apaixonado por musica. E, mesmo diante de uma plateia supostamente exigente, conseguiu emocionar – e se emocionar.
Pontualmente as 23h30min, o quarteto sobe ao palco do Beco203 e manda “We Broke Free”, segunda faixa de seu mais recente disco, The English Riviera. Em seguida, emenda “Love Underlined” e “Back on the Motorway” – esta do segundo álbum, Nights Out –, diante de uma plateia alucinada e ao mesmo tempo atônita com o que está assistindo.
Chamar o Metronomy de electropop ou qualquer outro subestilo é quase uma ofensa. Não é fácil rotular o som da banda, tal a ousadia e a quantidade de influências condensadas no – desculpem o chavão – caldeirão musical de Joseph Mount e seus amigos. Aliás, a eclética formação do grupo já demonstra o quão longe da obviedade está o som do Metronomy. Mount é um líder carismático, mesmo com sua notável timidez. No entanto, todos os integrantes chamam a atenção pela performance no palco: o baixista Gbenga Adelekan, sem duvida, é o mais estiloso; o tecladista e saxofonista Oscar Cash, com suas dancinhas inusitadas, o mais engraçado; já a baterista Anna Prior, mesmo ficando no fundão, se destaca pelo modo agressivo de “espancar” o instrumento, contrastando com seu jeito discreto.
Até a ordem do setlist é digna de elogios, começando com músicas cadenciadas e aumentando o ritmo aos poucos. Na quarta faixa, a megadançante “Holiday”, o Beco vem a baixo. Nela, as esferas que os músicos carregam no peito se iluminam e mostram que uma boa dose de criatividade pode superar orçamentos milionários em termos de impacto visual.
O show segue com “She Wants” e o primeiro grande hit da noite, “Heartbreaker”, cantada em coro e de cabo a rabo. A empolgação aumenta ainda mais com “The Bay”, apontada por várias publicações respeitáveis como a música do ano. Se é ou não, pode-se discutir, mas no momento em que ela foi tocada deu pra sentir alguns leves tremores no chão.
Com o público na mão, Mount, que se revezava entre o teclado e a guitarra, puxa o riff punk da instrumental “You Could Easily Have Me” – a única do primeiro disco, Pip Paine (Pay the £ 5000 You Owe), a ser tocada. “The End of You Too” também provoca suspiros dos fãs de carteirinha, mas em “Corinne” é possível concluir que English Riviera, lançado este ano, já é o disco mais popular do Metronomy. Com méritos, é bom dizer.
O show termina com uma trinca sensacional: “A Thing for Me”, “The Look” e “On Dancefloors”. Antes desta última, Mount se diz surpreso com a receptividade que teve no Brasil (a banda já havia tocado em São Paulo e depois seguiu para o Rio de Janeiro). “Vocês são o povo mais lindo que eu já vi”, afirma, quase chorando. Ok, pode ser que o cara diga isso em todos os países, mas com uma lágrima rolando no canto do olho é difícil não crer em sua sinceridade.
Menos de meio minuto após sair do palco, o quarteto retorna para o bis, que começa tranquilo, com a quase bossa “Some Written”, e termina com a arrasa-quarteirão “Radio Ladio”. Um aspecto negativo? Foram apenas 70 minutos de show.
Acaba o show em cima do palco, porque, fora dele, continua. Da boca do próprio Joseph Mount: “quando era menor, achava que quinta-feira era melhor que sexta”. Pelo que parece, segue achando, já que ele e seus amigos permaneceram no Beco durante a madrugada, bebendo cerveja, dançando e tirando fotos com todos que arriscassem duas palavrinhas em inglês. É, amigos, além de fazer música criativa e ousada, o Metronomy ainda faz questão de que seus fãs se sintam íntimos da banda.