Hanson: nostalgia e vibração em Porto Alegre

A banda apresentou "Shout it Out", o seu mais recente disco, e antigos sucessos na Casa do Gaúcho

Fotos: Liny Rocks

Passaram-se 11 anos desde que os irmãos Hanson apresentaram no ginásio Gigantinho de Porto Alegre um de seus maiores sucessos em turnê, This Time Around, levando ao delírio mais de 10 mil fãs. O show realizado na noite de 4 de novembro, última sexta-feira, na Casa do Gaúcho da mesma cidade pode ter sido muito mais modesto em termos de público – pouco mais de 1,5 mil pessoas assistiram à apresentação – mas não menos vibrante. A plateia, em que certamente estavam vários dos fãs que viram a banda ao vivo em 2000, não perdeu a energia ao longo da 1h30 de apresentação, cantando junto canções que marcaram principalmente adolescências e demonstrando aprovação em relação às novidades do trio.

“Waiting for this”, com Taylor Hanson nos teclados, abriu o show

Isaac, Taylor e Zac Hanson estão divulgando o seu mais recente trabalho, Shout it Out, lançado nos Estados Unidos em 2010. Foi com a mesma música que abre o CD que eles iniciaram o show: “Waiting for this”. Canção emblemática, já que o tempo de espera dos fãs gaúchos para ver a banda outra vez não foi curto, e esse período só fez acentuar o clima nostálgico que dominou a apresentação.

É compreensível que após o disco This time around tenha ficado mais difícil de acompanhar os passos da banda, que em 2003 tornou-se independente, perdendo o suporte da grande gravadora Island Def Jam Records e trabalhando com o seu próprio selo, o 3CG (esta história está registrada no documentário Strong enough to break). Os lançamentos não tiveram tanto alcance na América Latina, apesar de os irmãos conseguirem ter mais liberdade para  fazer a música que tinham vontade de fazer. Assim, os sucessos mais conhecidos pelo público gaúcho são os mesmos de uma década atrás. Por isso, e pelas lembranças às quais as músicas remetem, a nostalgia. Mas que os irmãos amadureceram musicalmente ao longo dos últimos anos ficou mais do que provado já nos primeiros minutos da apresentação.

Se a gritaria feminina – como o esperado, a maior parte do público era formado por mulheres – já estava quase ensurdecedora até a banda largar o hit, conseguiu aumentar nos primeiros acordes da segunda música do setlist: “Where’s the Love”, do disco Middle of Nowhere (1997). Impossível não lembrar a época em que os irmãos, ainda crianças, com seus cabelos longos e loiros, eram confundidos com meninas pelos desavisados. O coro do público já demonstrava a sua potência incentivado pelo carismático Taylor aos teclados, enquanto Isaac executava solos na guitarra e Zac lançava sorrisos para o público.

Em um contexto de família e em uma carreira que iniciou tão cedo, era de se esperar que cada um dos três irmãos desenvolvesse o seu próprio estilo com o passar do tempo. Mas, de forma alguma essas diferenças causam estranhamento no todo da banda ou risco de fim: a sintonia entre os músicos é evidente, ainda que cada um tenha o seu jeito particular, a começar pelo visual. Isaac adotou terno e gravata; Taylor, sempre arrumado emborá  mais despojado, uma blusa solta de mangas compridas e jeans; já Zac, uma camisa xadrez por cima de camiseta branca, bem informal. A música, com a pegada pop e temáticas variadas, segue coerente.

Isaac Hanson não economizou solos de guitarra

A dançante “Thinking ‘bout something” do novo disco, terceira do show, trouxe o público de volta às novidades da banda. Para quem escutou Shout it out, podem ter feito falta os metais que estão na gravação – o conjunto manteve a performance apenas com teclado, guitarra e bateria. Nada que prejudicasse a animação na Casa do Gaúcho.

A afinação dos três foi notável principalmente quando optaram em certa altura do show por um formato acústico. A série de canções sem som elétrico começou com “Strong enough to break”, passou pela simpática “Runaway run”, pela balada “Penny and me” e pela romântica “Deeper” – cada uma de um momento diferente da trajetória do trio. Na ocasião em que Zac saiu de trás da bateria e direcionou-se aos teclados para a sua performance solo, enquanto os irmãos deixavam o palco, não fez feio: ele, que usualmente dedica-se ao backing vocal dos outros dois, interpretou “Use me up” com segurança nas teclas e firmeza na voz.

Na sequência, saindo Zac do palco, quem assumiu os teclados foi o mais velho, Isaac, para interpretar a canção, segundo ele, selecionada dentre os pedidos feitos pela fanpage no facebook da banda no dia anterior. A surpresa foi boa: “More than anything”, do primeiríssimo álbum dos Hanson, lançado em 1995, foi executada com todo o romantismo requerido pela letra, emocionando os fãs. No entanto, não emocionou mais do que a música que se seguiu: Isaac, deixando o palco, deu lugar a Taylor, que interpretou “Save me” em piano solo, acompanhado com fervor pelas vozes do público.

Não faltaram outras composições das antigas como “Madaleine”, “A minute without you” e, obviamente, “Mmmbop”, intercaladas pelas relativamente recentes “Carry you there” e “Been there before”. Convidando todos a dançar já no fim da apresentação e obtendo total sucesso neste convite, Taylor puxou a música de trabalho de Shout it Out, “Give a little”, minimalista em termos de instrumentação e surpreendentemente cativante. Difícil foi encontrar quem não estivesse se divertindo ao longo da performance, a começar pela banda. Para fechar o show antes do bis, não poderia faltar a vigorosa “Lost without each other”, do disco Underneath (2004).

Na bateria, Zac Hanson falou pouco, e divertiu-se muito

Não foi complicado adivinhar a música que viria após os breves minutos de gritos e declarações de amor da plateia, chamando a banda de volta ao palco. Taylor, com a harmônica em punho, deu a primeira nota do sucesso “If only”, que mais uma vez fez o público cantar junto em alto e bom som. Conscientes de que é o disco This time around o queridinho dos fãs gaúchos, a banda encerrou a noite com outra canção do mesmo álbum, menos conhecida e mais pesada do que as outras: “In the city”.

Vibração, emoção, gritaria da platéia e delírio são palavras que não podem faltar quando se fala de uma apresentação dos Hanson como esta. Sim, é uma banda que pegou o seu público principalmente durante a pré-adolescência, provocando reações para muito além da música e tornando-se um fenômeno midiático. Mas que a música, vindo junto com a afinação, composição, sintonia entre integrantes e amadurecimento, é o que levanta o público da banda, não se pode negar. Foi o que os irmãos provaram no show de Porto Alegre – com menos visibilidade do que há uma década, mas com o mesmo pop vibrante e de qualidade.

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Um comentário em “Hanson: nostalgia e vibração em Porto Alegre

  1. Finalmente li um comentário sobre o show que está ótimo e coerente! Parabéns a Mariana por ser uma das poucas pessoas que realmente sentiu e captou o que todas as fãs do Hanson sentiram nesse show!

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