Eu estava lá para ver a “caminhada da vitória” de Victor de Castro, um garoto de 12 anos, que juntamente com sua irmã Tais de Castro e o namorado dela Michel Lazzarin foram chamados por Eddie Vedder lá pelo meio do show no estádio do São José (mais conhecido como Zequinha) no dia 11 de novembro para subirem ao palco. O vocalista do Pearl Jam percebeu que o menino estava sendo pressionado às grades (eles estavam logo à frente palco) e, mostrando-se preocupado, convidou-o a subir. Depois do show, por pura sorte, me aproximei do trio devido a um amigo em comum e acompanhei-os até o estacionamento onde haviam deixado o carro. Pelo trajeto de mais ou menos um quilômetro do estádio até o carro, Vitor e seus amigos experimentaram a sensação da fama abrupta que haviam recebido. Pessoas passavam pelo menino e mexiam no seu cabelo, faziam graça. Quem não reconhecia que aquele era o pré-adolescente que havia subido ao palco, logo percebia ao ver o pandeiro que Eddie Vedder lhe deu. Assim como a garrafa de vinho, o setlist e algumas palhetas que sua irmã e o namorado protegiam com uma legítima ostentação. Alguns olhares de inveja também pairavam ao redor, por exemplo, ao passar por um grupo de homens por volta de 40 anos que usavam aquelas roupas do estilo grunge do início da década 90 (revival da moda por um dia), eles gritavam “Pista Vip, Pista Vip”. Normal, afinal quem não gostaria de subir ao palco com o Pearl Jam, uma das melhores bandas em termos de qualidade de apresentação?
E é totalmente compreensível porque o pessoal ficou feliz por Vítor, ou ficou com certa inveja do menino: o show que o Pearl Jam fez foi excelente. Eddie Vedder parecia estar tão a fim de tocar naquela noite, que antes do show, quando banda punk da norte-americana X estava fazendo a abertura, ele fez uma pequena participação, cantando uma das músicas. Com previsão de começar a tocar às 21h, o Pearl Jam teve um atraso tolerável de quase vinte minutos até subir no palco, abrindo o trabalho com Why Go do disco Ten que completa 20 anos de seu lançamento em 2011. Uma grande banda sabe variar o seu set list e como o que não falta para o grupo são canções de qualidade, além da disposição em tocá-la (o espetáculo durou quase 3 horas), o que se viu foi uma boa distribuição na ordem das músicas. Para fã nenhum botar defeito. Após Why Go, foi a vez de outro clássico da banda, dessa vez um mais engajado, Do The Evolution, com sua pegada feroz fez o público pular e gritar o refrão fortemente. É claro que, invariavelmente, as músicas que mais empolgavam eram as mais conhecidas, como Daughter, Even Flow, State Of Love And Trust – isso na primeira parte do show. Quando voltaram pela primeira vez tocaram Oceans, outro clássico do disco Ten e uma bela homenagem ao Ramones, banda que são abertamente fãs, com I Believe in Miracles. Eles tocaram essa também em 2005 no primeiro show em Porto Alegre no Gigantinho. Naquela época a surpresa era o baterista Mark Ramone que participou da apresentação – ele estava na cidade para tocar com o Tequila Baby.
No retorno final, a banda apresentou ainda alguns dos maiores clássicos, Jeremy e Alive, além das queridas Better Man e Yellow Ledbetter, canção que, aliás, encerrou a apresentação para cerca daquelas vinte mil pessoas satisfeitas com o resultado. Apesar de o Zequinha, infelizmente, começar a ligar as luzes do estádio, antes mesmo do show acabar, a maioria das pessoas continuou lá. E, é claro, puderam assistir Vítor e companhia que até então assistiam ao show do lado de Eddie Vedder a esquerda no palco, sendo chamados pelo frontman para dar tchau para o público. E o vocalista prometeu que, em breve, retornaram ao Brasil que, segundo ele, tem o melhor público do mundo. Mais tarde, pela reação da plateia durante a caminhada de Vítor e seus companheiros, deu para perceber claramente aquela fervorosa paixão que poucas bandas suscitam nas pessoas. E é, realmente o Pearl Jam é um caso de amor e de confiança.
Muito bem resumido Rafa.