A clássica série de televisão do Batman tornou-se clássica por diversos motivos. Era uma série de aventura dos anos 60, que, pra quem não lembra, passava sempre na mesma bat-hora, no mesmo bat-canal, com Batman, Robin e diversos grandes vilões (dos quais o Batman tem vários para escolher). Roupas ridiculamente coloridas, efeitos de câmera inovadores (se sem sentido), lutas tão bem ensaiadas que, não fossem as gigantescas e coloridas onomatopeias tomando a tela, seriam confundidas por números de dança, o bat-móvel e os mais diversos e sem propósito bat-apetrechos, uma trilha sonora das mais icônicas e inconfundíveis, enredo fraco (e perfeitamente natural para o público da época) e o clássico “Santa QualquerCoisa Batman!” proferido várias vezes por episódio pelo garoto prodígio fazem da série uma criadora de paradigmas, que, exatamente por não terem sido seguidos por outras séries do gênero, a tornam única.
Devo corrigir a impressão que essas palavras podem, talvez, causar no leitor; a dizer, que eu possa não gostar da série. Entendo e, portanto, admiro a posição histórica dela na televisão estadunidense (e mundial, já que foi importada para outros países, incluindo obviamente o Brasil). Sei que foi o primeiro contato de toda uma geração com, discutivelmente, um dos melhores super-heróis já criados e, indiscutilvelmente, os melhores vilões. Adam West e Burt Ward foram ótimos como a dupla dinâmica, e o que dizer da genialidade de Cesar Romero, Frank Gorshin e Burgess Meredith como Coringa, Charada e Pinguim? Sim, é uma ótima série. No entanto, o distanciamento temporal a tornou, hoje em dia, muito mais comédia do que era nos anos 60.
E, graças à internet, a série foi revivida e hoje é conhecida, na cultura virtual brasileira, pelo menos, por outro motivo. Uma redublagem caseira de um episódio, gravada em fita durante a década de oitenta, perdida, acabou, anos depois, caindo na Internet e virando febre. No vídeo, que pode ser encontrado online em diversos lugares, Batman, Robin, Gordon, Coringa e TODOS OS PERSONAGENS são redublados usando muitos palavrões e xingamentos. O vídeo, que já tinha rodado de mão em mão em formato de fita, encontrou na Internet um sucesso estrondoso. Suas diversas falas viraram memes e apareciam por todo lugar na rede. No boca a boca, o vídeo se tornou conhecido de todo brasileiro que se preze e já tenha utilizado a Internet alguma vez.
O nome Batman na Feira da Fruta vem da música, Feira da Fruta, do grupo Capote, que um dos dubladores colocou para tocar durante a gravação da redublagem – e ela se repete durante os mais de vinte minutos de episódio (que, por sinal, não é único. Foram feitas redublagens de outros episódios da série, que, no entanto, não são tão engraçados).
E, provando a força que a Internet tem, e provando a grande influência que o vídeo teve no público virtual brasileiro, um grupo de artistas criou um blog, onde estão fazendo uma versão em quadrinhos do episódio – não o original, mas a redublagem. O projeto colaborativo é antigo, em termos de Internet – a primeira página do blog é do fim de março desse ano -, criado em homenagem ao já clássico vídeo, e disponibiliza, em média, uma página nova a cada semana.
É muito divertido ver West, Ward e Romero em suas versões quadrinhos, com seu físico e vestimenta tão diferente do que costuma aparecer em histórias de super-herói. A união visual da série original com as falas da redublagem cria ainda um novo nível na paródia original, trazendo uma linguagem de quadrinhos recontando a linguagem de TV dos anos 60. Os oito artistas que participam do blog têm estilos bem diferentes, e cada página é feita por um deles. Embora isso dificulte o olhar das páginas como uma sequência narrativa, isso não atrapalha a história, que todos sem exceção devem conhecer.
Para ler a já clássica versão da clássica paródia da clássica série do Batman, visite http://batimahq.blogspot.com.br/– aqui o link para a primeira página. Assista o vídeo aqui.