Fotos: Fernando Halal
Com um Pepsi on Stage quase lotado pelo segundo dia consecutivo, a banda Los Hermanos voltou a se apresentar em Porto Alegre, onde não tocava há mais de cinco anos. Nem o frio intenso, que fez os fãs trocarem as tradicionais sandálias e batas por botas e blusas de lã, foi capaz de esvaziar o local neste domingo, 13. O segundo dia de apresentação do grupo na capital gaúcha começou com apenas 15 minutos de atraso e fez muita gente correr para dentro da casa de shows para não perder nada da seleção, que contemplou todos os discos hermânicos.
Sorridentes, mas pouco falantes, Marcelo Camelo (guitarra e vocais), Rodrigo Barba (bateria), Rodrigo Amarante (guitarra e vocais) e Bruno Medina (teclado) mostraram uma set list – escolhida sempre momentos antes de subirem ao palco – com poucas mudanças se comparado ao dia anterior. “De onde vem a calma” deu lugar a “Mais tarde”, de Marcelo Camelo. Foi suprimida também um cover de “Nunca diga”, da Graforréia Xilarmônica, apresentada na noite anterior para deleite dos gaúchos.
O reencontro para essa turnê, que passará por onze estados brasileiros, faz parte da comemoração de 15 anos da formação da banda, em 1997. De lá pra cá, veio o sucesso e o fim. O primeiro, em 1999, com Anna Júlia, regravada pelo beatle George Harrison, incomodou um pouco os cariocas. Por longos anos, o grupo se recusou a executar a música ao vivo, querendo provar que era bem maior que ela. Aos poucos, entretanto, parece que o ranço foi deixado de lado e “Anna Julia”, executada pela última vez em 2007, voltou a merecer os palcos.
Em abril de 2007, o conjunto deixou semi-orfãos os fãs, ao anunciar seu fim. Com isso, os integrantes puderam-se dedicar a iniciativas paralelas, como o Little Joy, projeto de Amarante com o baterista dos Strokes. No entanto, essa separação nunca foi definitiva, e os hermanos sempre arranjam uma desculpa para tocarem juntos novamente.
Acompanhados de Índio Costa (sax) , Mauro Zacharias (trombone), Valtecir Silva (trompete) Bubu e Gabriel Bubu (baixo), os músicos abriram o show com o hit “O vencedor”, que teve o primeiro verso todo cantado pela plateia ensandecida. “Retrato pra Iaiá” e “Todo o carnaval tem seu fim” levantaram o público, que gritava a cada palavra das músicas.
Após a terceira música, as primeiras palavras faladas e não cantadas vieram de Amarante: “A gente está muito feliz. Obrigado a todo mundo que veio”. As calmas “Além do que se vê” e “Primeiro andar” baixaram um pouco os ânimos. Talvez por causa da segunda apresentação em dois dias, talvez por causa do frio, talvez por causa da precária acústica do lugar ou até, pela combinação de todos os fatores, “Azedume” e “Descoberta” foram cantadas por um Marcelo Camelo rouco e quase sem voz, ajudado sempre pelos espectadores.
As românticas “Conversa de botas batidas” e “Último romance” viram logo após Amarante pedir permissão para tocar a sua nova “Um milhão”, um dos únicos momentos do espetáculo em que os presentes silenciaram e escutaram com atenção. Das 27 músicas cantadas em duas horas, a mais esperada, mesmo que os fãs incondicionais não admitam jamais, era “Anna Julia”. E ela veio na terceira música das cinco do bis. Aos primeiros acordes, os gritos intensificaram-se e o coro não perdeu uma só palavra da letra.
Depois de “Pierrot”, que encerrou a noite, a sensação de todos era de que o reencontro poderia ter durado mais. Uma sessão apenas não é o suficiente para saciar a saudade dos fãs, que reclamavam da falta de “Primavera”, “Cade teu Suin” e “Samba a dois”. Por outro lado, o que não faltou foi diversidade de público. Barbudos e indies com camisa xadrez e all star eram a grande maioria, claro, mas ainda era possível observar outros estereótipos. Uma patricinha mais interessada em tirar fotos com seu celular de última geração e um surfista meio perdido, bem como um magrão de bombacha e coturno conviviam traquilamente.
Confira a set list completa do show de 12 de maio:
- O vencedor
- Retrato pra Iaiá
- Todo carnaval tem seu fim
- O vento
- Além do que se vê
- Primeiro andar
- Morena
- Do sétimo andar
- Casa pré-fabricada
- Um par
- Azedume
- Descoberta
- Sentimental
- A flor
- Cara estranho
- Condicional
- Deixa o Verão
- Mais tarde
- A outra
- Um milhão
- Conversa de botas batidas
- Último romance
Bis
- O velho e o moço
- Tenha dó
- Anna Julia
- Quem sabe
- Pierrot