Texto e fotos Mariana Gil
Fugindo do meu papel de editora de fotografia, me desafio a escrever, pela primeira vez, uma resenha de show. Driblando minha falta de experiência no assunto, convido então o leitor a experimentar uma viagem através das minhas fotos e do relatos de alguns fãs para compreender um pouco o que foi para mim (e para eles) o show do Andy McKee em Porto Alegre, no último dia 09.
Ao entrar no Teatro do CIEE naquela fria noite gaucha de 09 de junho, não sabia direito o que esperar. Conhecia os famosos vídeos “homemade” daquele cara simples, que tocava suas músicas no violão em uma gravação sem floreios. Não conseguia visualizar como seria um show de Andy McKee. Antes mesmo de sua entrada em cena, o palco já mostrava a atitude corajosa do músico: ao centro do grande tablado, um pequeno tapete abrigava dois violões, uma mesa auxiliar e um pedestal de microfone. Nenhum banquinho para o clássico show de violão. Nenhum cenário decorando o fundo para tornar o palco mais cheio. Apenas os focos de luz iluminando o pequeno espaço que seria ocupado por Andy.
Andy McKee é um violonista solo que só toca músicas instrumentais. Até aí, nenhuma novidade…Mas o que chama a atenção no norte-americano de 33 anos, e que o fez conquistar um espaço entre os vídeos mais acessados no YouTube, é a sua intimidade com o violão. Não é o simples domínio de uma técnica – a percussão e o dedilhado executados com perfeição e complexidade em suas músicas –, mas a perfeita harmonia entre a composição e o instrumento. Para José Florêncio, músico de 22 anos, McKee “usa a técnica como uma ferramenta pra expressar a musicalidade que tem”. José lembra-se de quando assistiu a um vídeo de Andy pela primeira vez: “minha vizinha me apresentou o vídeo da música Drifting e eu fiquei de boca aberta com o que eu vi e ouvi”.
A Técnica do Músico
Clique nas fotos para uma melhor resolução
[nggallery id=4]
E quem esteve no show do último sábado pode presenciar toda essa musicalidade ao vivo, sentir com Andy cada nota executada, cada batida. O corajoso minimalismo do palco concentrou o foco de todos os espectadores no músico. Enquanto tocava, Andy parecia nem perceber que estava fora do seu habitual cenário caseiro dos vídeos, o palco não o incomodava. As notas saiam de dentro dele naturalmente, seu corpo vibrava com a música e conversava com a melodia. O fato de as músicas serem todas instrumentais não impediu que a plateia compreendesse aquilo que estava escrito no som. E então, como se houvesse nele algum tipo de imã, tornou-se impossível desgrudar os olhos do que estava fazendo. Como o Flautista de Hamelin, Andy McKee hipnotizou a todos através do som e provou com muita delicadeza e modéstia, que um show não precisa ser pirotécnico para encantar, precisa apenas de música.
O Palco
Clique nas fotos para uma melhor resolução
[nggallery id=5]
Entre uma música e outra, Andy mostrou toda sua simplicidade (tão bem retratada na montagem de palco), contando histórias divertidas sobre as composições. Em alguns desses momentos descontraídos, falou da primeira guitarra que ganhou de presente do pai quando tinha treze anos e da música que escreveu para uma garota por quem estava apaixonado e, por não querer ficar eternamente com o nome de uma história que não deu certo gravado em sua música, colocou o título de “SHE” – essa música foi escrita para a mulher com quem Andy acabou se casando: Christine.
Leonardo Ferreira, publicitário, estava ansioso para assistir ao show de McKee, que ele brinca chamando de “a melhor banda do mundo de um homem só”. Depois de uma hora e meia de espetáculo sonoro e visual, o publicitário era só elogios: “além das performances incríveis, com destaque para Hunter’s Moon do último álbum, cujo ‘malabarismo’ para tocar é de cair o queixo, vi um artista com uma simpatia e uma simplicidade contagiantes; as historinhas bem humoradas que ele contava entre uma música e outra, enquanto afinava o instrumento, deram uma alegria especial ao espetáculo”, conta ele.
O dedilhado
Clique nas fotos para uma melhor resolução
[nggallery id=6]
O talento e a musicalidade são tão grandes, que Andy McKee extravasa o som puro do violão. Com melodias suaves e fluídas, o músico harmoniza tão bem as notas que, como destaca Jonas Mallmann, estudante de farmácia, “às vezes tu ouve uma música e não consegue acreditar que é só UM cara e UM violão ali”. Jonas, como a grande maioria dos fãs de Andy McKee, conheceu o músico através do sucesso dos vídeos no YouTube: o vídeo de Drifting, seu primeiro e maior hit, já ultrapassou os 120 milhões de acessos. O estilo e a técnica de McKee já serviram até de inspiração para Jonas: “depois de tanto tempo na guitarra, me dedicando ao metal, com certeza foi as músicas desse cara que me levaram a voltar ao violão e aprimorar o dedilhado”.
A simpatia do artista
Ao final do show, Andy McKee me surpreendeu mais vez, provando que ter talento e sucessão não precisam fazer de você arrogante e “estrela”: depois de voltar timidamente ao palco para tocar o BIS, Andy encerrou o show convidando a plateia para um encontro mais casual “eu estarei ali na frente agora, passem para dar um alô!”. Os fãs também não decepcionaram: de forma organizada e com muita tranquilidade, foram passando para cumprimentar o ídolo, tirar fotos e pedir autógrafos. Jonas estava lá, com um sorriso no rosto e um violão autografado na mão. “Quando fiquei sabendo do show postei um recado no facebook do cara, atualizado por ele mesmo, dizendo que nem acreditava e perguntando se poderíamos ter uma sessão de autógrafos. E o cara mesmo respondeu: “absolutely!”. Isso só resume o jeito dele. Ele é um cara muito tranquilo, igual a música dele, gente boa pra caramba. Sem medo do público, e muito receptivo. Figura rara de se encontrar por aí! E ainda faturei ingressos autografados e mais um autógrafo no violão que comprei pra justamente aprender as musicas dele!”, conta Jonas.
José, que também esperou para cumprimentar Andy, reforça a impressão geral sobre a personalidade do músico: “ele foi o mesmo cara que em cima do palco. Um homem claro e transparente. Não finge nada, totalmente original”. Andy McKee recebeu a todos os fãs com sorriso no rosto, paciência e nenhum sinal de cansaço. Com certeza, uma noite que agradou a todos e só aumentou o carinho dos gaúchos pelo músico americano. “Eu vou guardar essas fotos com muito carinho junto com as lembranças desse show inesquecível de um artista tão genial e tão simpático”, diz Leonardo, que já queria ver Andy McKee de volta aos palcos porto-alegrenses na turnê da banda Dream Theater em agosto. “Ele respondeu com uma alegria mista que já sabia e que os caras tinham convidado ele pra tocar, mas como ele estava fazendo muitas turnês, disse que ia dar um tempo pra descansar e ficar com a família. Uma pena, mas ok! Ele merece!”, completa Leonardo.
Clique nas fotos para uma melhor resolução
[nggallery id=7]