Fotos: Gabriela MO
Clarissa Mombelli é uma artista que não tem medo de botar a mão na massa. No ano passado, quando lançou o single “Essa Chuva”, a cantora foi para as ruas de Porto Alegre e, em meio a um sinal fechado e outro, distribuiu o disquinho para quem estivesse passando. Apesar de receber alguns olhares desconfiados, dessa forma ela acabou chegando aos ouvidos de muita gente. “No meio do trânsito, a pessoa coloca o CD para ouvir, de repente se surpreende, gosta da música e pensa: ‘quem é essa menina?’ E aí vai atrás de mais informações na internet”, argumenta.
Com esse trabalho de formiguinha, Clarissa vai consolidando seu nome no cenário musical porto-alegrense. Transitando pela cena alternativa, se diz confortável tanto junto ao público de rock quanto o de MPB, embora esta última, inegavelmente, seja a influência mais aparente em suas composições. “Tive muitas referências. Cresci ouvindo Elis Regina, Queen, Beatles, Stones, Maria Bethânia… Também gosto de Radiohead, Laura Marling, Adele, Amy Winehouse, Arcade Fire. Ultimamente tenho ouvido bastante Metric, Bombay Bicycle Club e Boy”, diz a cantora, enumerando um nome atrás do outro. “Gosto de mesclar, de trazer essas referências para a minha música sem me prender a um único estilo, seja ele rock, folk ou MPB”.
É possível ter uma ideia dessa gama de influências em Volta no Tempo, álbum de estreia de Clarissa, lançado em 2010. São nove músicas, todas autorais – algumas delas com a colaboração de amigos e parentes. A temática das canções é bem intimista, o que pode ter contribuído para que a publicitária só começasse a encarar a música profissionalmente há alguns anos. “Comecei a compor e guardava essas letras, não mostrava pra ninguém. Meu pai é poeta, então, minha forma de expressão sempre foi a poesia. Naturalmente, as músicas foram por esse caminho, de expressar os sentimentos, sobre pessoas, situações… Como cantora, estou mais focada na expressão do que em técnicas vocais”, confessa ela.
De voz doce e ao mesmo tempo forte, Clarissa sempre foi ligada à música, seja pela influência dos pais ou pelo fato de ter nascido no interior gaúcho – mais precisamente na cidade de Tapera. “Quando pequena, participei muito de invernada (expressão que, entre outras coisas, remete aos grupos de dança tradicionalista), rodeio, frequentei muito CTG. Daí tomei um ‘infartão’, né (risos)”. Naqueles tempos, ela se arriscava a cantar no chuveiro, mas não passava disso. “Eu me achava uma grande cantora, cantava no banho (risos)”.
Tornar-se compositora foi fundamental para impulsionar a vocação artística de Clarissa. Mas isso só aconteceu anos depois se mudar para Porto Alegre. “Vim para cá com 17 anos (hoje tem 30), mas não sabia como fazer isso. Daí resolvi fazer o curso de produção do Ticiano Paludo (professor e produtor musical) e conheci o Eduardo (Dolzan, baterista da banda Identidade). A ideia do disco começou a tomar forma, então convidei algumas pessoas para me ajudar a colocar essa ideia em prática”, explica.
A cantora – que também toca violão – faz questão de enumerar os amigos e colaboradores que de alguma forma a ajudaram na carreira. “Minha construção depende muito de mim, mas muita gente boa me ajuda”, ressalta. E logo lembra um episódio triste, mas que acabou rendendo uma composição. “Aquela tragédia em Santa Maria (o incêndio em uma boate que deixou 241 mortos) me tocou profundamente, e acredito que a muita gente. E, vendo mensagens no Facebook, me comovi com o comentário de uma menina de Tapera, Julia Batistella Gatto, sobre a irmã dela, Paula, que morreu no incêndio – aliás, três pessoas de lá morreram. Essa situação inspirou uma música, “Casa da Vó”, que eu fiz em homenagem a essa menina e a todos que sofreram com essa tragédia”.
“Casa da Vó” e “Essa Chuva” não são as únicas canções recentes de Clarissa. “Nessa Estrada e no Fim”, faixa que pode se escutada no site da cantora, também integra a seara de novas composições, algumas das quais estarão presentes em um novo trabalho, previsto para abril. “Vai ser um EP. As músicas terão alguns novos elementos, como bandolim, ukulele e violino”, avisa. “Não acho interessante se apegar a uma fórmula, é sempre bom experimentar”.
Planejando novos shows na noite porto-alegrense, no interior e quem sabe fora do país (ela já chegou a se apresentar em Londres e Madri), a cantora admite que não gosta de ficar parada. “Os projetos Prendam as Compositoras e ESCUTA – O Som do Compositor, dos quais eu participo, são a prova de que há muita gente boa fazendo música autoral por aqui, e uma maneira interessante de divulgar o nosso trabalho”, acredita. “A tarefa do compositor é complicada porque as pessoas nem sempre param para escutar algo que elas não conhecem. Não desmereço quem faz covers, mas eu sinto a necessidade de compor, de passar a minha mensagem através da música.” Realmente, Clarissa Mombelli não tem medo de botar a mão na massa.
Confira nos links abaixo algumas músicas da cantora:
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