“Sr. prefeito: nesta cidade existem muitos problemas sérios que precisam de resultados! Não gaste tempo e $ apagando graffiti nas ruas!”. Com essa frase, os irmãos e artistas de rua Otávio e Gustavo Pandolfo, conhecidos como Osgemeos, protestaram contra a ação da prefeitura de São Paulo, que cobriu seus grafites no Viaduto do Glicério feitos em abril e maio desse ano. A reclamação foi escrita sobre o mural apagado com tinta cinza pela prefeitura.
Alguns dias depois a Subprefeitura da Sé ordenou que pintassem a intervenção novamente. Os artistas, pela terceira vez, grafitaram então no espaço, escrevendo: “Sr. prefeito: apagar arte é apagar cultura, apagar cultura é desrespeitar o povo”. A tentativa não durou mais do que algumas horas, levando mais uma mão de tinta cinza. Não conformados, Osgemos seguiram deixando sua marca – o seu último desenho, sem frases, continua no local.
A Subprefeitura alegou que as primeiras inscrições foram consideradas pichações. Em nota, os grafiteiros manifestaram-se contra a política de cobrir a arte urbana feita nos muros: “A arte de rua vem sendo apagada na cidade ao longo do tempo. Esperamos com este alerta que a prefeitura de São Paulo e seus órgãos competentes PAREM definitivamente de apagar os grafites, respeitem e preservem a arte de rua em todos os seus segmentos”. A prefeitura afirmou que tomará providências para que as remoções não se repitam.
Esta não é a primeira vez que os artistas envolvem-se em polêmica com a administração da cidade: no início do ano passado, um grande mural feito pelos irmãos, pintado na lateral de um prédio no Vale do Anhangabaú, foi coberto pela prefeitura. Na época, a justificativa foi a prevista demolição da construção.
Otávio e Gustavo Pandolfo, nascidos em 1974, são formados em desenho de comunicação pela Escola Técnica Estadual Carlos de Campos, e atuam como grafiteiros desde 1987. Os trabalhos da dupla estão presentes em cidades de diversos países, como Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, Grécia e Cuba. Em 2008, chegaram a realizar uma pintura na fachada da Tate Modern (Londres) para a exposição Street Art, junto com outros grupos de artistas.