Não é nenhuma novidade que a indústria de discos está praticamente morta. Se os CDs há muito estão em baixa, não vai ser o revival dos vinis, restritos a um público ínfimo, que vai salvá-la. E, com todo respeito às lojas que vendem música virtual, comprar MP3 é uma daquelas boas ideias que só funcionam na teoria. Se tem de graça, quem é que vai querer pagar?
Essa situação transformou-se em uma verdadeira sinuca de bico para os artistas. Não para os independentes, que nunca viveram da venda de álbuns, mas para os grandes, que se acostumaram a cifras milionárias e vendagens impensáveis para os dias de hoje. A não ser por uma Adele aqui e uma Lady Gaga ali, poucos são os músicos que conseguem realmente lucrar com o lançamento de um CD. Por isso, é inevitável que eles recorram a sua outra possível e óbvia fonte de renda: os shows.
É aí que a gente descobre que tudo tem seu preço. Economizamos ao baixar um disco gratuitamente na internet, mas, hoje em dia, se queremos ir a um show, temos que pagar uma pequena fortuna. Não que as coisas estejam diretamente relacionadas, mas a impressão que fica é de que os músicos tentam compensar com as apresentações ao vivo o que não estão ganhando com a venda de discos.
Ok, pode parecer uma teoria meio infundada, pois há produtoras envolvidas nesse negócio, e são elas que estabelecem os preços dos ingressos. Mas não tem como negar que os artistas, em sua maioria, são coniventes com essa situação.
Felizmente, a necessidade de vender esses shows, por um preço alto e para muita gente, está ocasionando ao menos uma disputa saudável: para ver quem oferece o melhor custo-benefício. Você paga caro para ver Paul McCartney, mas sai impressionado por três horas de clássicos inesquecíveis; mesmo caso do Metallica, que surpreendentemente resolveu “esticar” suas apresentações nos últimos anos; ou de Bruce Springsteen, que chegou a tocar por mais de quatro horas no ano passado.
Para quem consome música, essas apresentações mais longas e caprichadas são um alento, já que no quesito preço parece que as coisas não vão melhorar tão cedo – se é que vão. A quantidade de shows internacionais que temos hoje no Brasil é enorme, e mesmo Porto Alegre, uma cidade afastada do centro do país, vem recebendo um expressivo número de atrações de grande porte. Por isso, oferecer um espetáculo de qualidade (não precisa ser longo ou pirotécnico, mas tem que ser na base do “vale quanto pesa”) é o mínimo. E quem pode ainda cria novas formas de lucrar em cima disso.
Um exemplo claro é a atual turnê do Black Sabbath, que passa pelo Brasil em outubro. Além de ingressos com preços variados (o mais “baratinho” era um de pista em Porto Alegre, por R$ 180, que esgotou logo), ainda há o tal “meet and greet” com o vocalista Ozzy Osbourne. Por R$ 1,5 mil, o fã pode tirar uma foto com o ídolo, entrar mais cedo no show, receber um ingresso comemorativo e uma sacola de presentes da banda, entre outras coisas – algumas delas absurdas, como “hospitalidade VIP”. Detalhe: o pacote NÃO inclui o ingresso!
Essa malandragem, já utilizada por outros rockstars, como Steven Tyler e Joe Perry, do Aerosmith, mostra que, por mais que digam “amar” seu público, os músicos não perdem uma oportunidade de ganhar dinheiro. E numa hora dessas é inevitável a nostalgia. Saudades de quando os artistas tiravam fotos com seus fãs no hall de um hotel, sem cobrar cachê… E ficar na primeira fila de um show era mérito de quem chegasse primeiro, não de quem pagasse mais caro pela famigerada pista VIP (essa palavra de novo).
(…)
Que baita arrependimento de não ter visto os Stones em Copacabana, naquele show de 2006, para um milhão de pessoas. De graça.
OBS: por mais impressionante que seja, os passes para o “meet and greet” com o Ozzy estão esgotados para os shows no Brasil. Não acredita? Confere aqui, então! Sábio mr. Osbourne, que achou um jeito de dar uma engordada na aposentadoria…