Texto: Débora Backes
Fotos: Ita Pritsch
O Jorge que vem lá da Capadócia montado em seu cavalo chegou ao palco do Pepsi On Stage com quase uma hora de atraso. “Alma de Guerreiro”, trilha da novela Salve Jorge, foi a escolhida para aquecer o público que foi até as imediações do Aeroporto Salgado Filho na noite fria de 26 de junho para conferir a famosa desenvoltura de Seu Jorge.
Na capital para divulgar seu álbum “Música para Churrasco Vol. 1”, o cantor mostrou à plateia os vários talentos que o tiraram das ruas do Rio de Janeiro e o colocaram nos palcos, nas gravadoras e no cinema. Entre uma música e outra, Seu Jorge arriscou passos combinados com a banda, regeu seus músicos, interpretou letras e por suas mãos passaram diversos instrumentos, da flauta ao violão.
Com os tradicionais óculos escuros e o jeito malandro de se mover, a irreverência demorou apenas duas músicas para se ressaltar no artista que seguiu o show com o sucesso “Mina do Condomínio”, “Chega no Swingue” e “Chatterton”, em que tocou a flauta transversal e deu um clima sombrio ao repertório com efeitos sonoros de ecos e refrões quase gritados: E eu! Não tô nada bem.
Ao som do saxofone e do trompete dos músicos, Seu Jorge seguiu comandando os passinhos da banda. Um para o lado e um para o outro, quebradas de quadril e até pulinhos embalaram “Pessoal Particular”. Mas a animação do palco não chegou à pista na primeira metade do show. A platéia interagiu pouco aos pedidos de palmas e de acompanhamento durante as músicas por parte da banda e do próprio Seu Jorge. Uma decepção que transparecia nos apelos de “vamos fazer barulho” vindos dos músicos.
Parecia que somente um milagre de Jorge poderia reverter a situação. Um truque da manga do artista recuperou um pouco do ânimo na casa quase lotada. A habilidade de regente surpreendeu o público de várias idades. Os efeitos de luz sicronizados com os movimentos das mãos de Seu Jorge se misturaram ao som dos instrumentos de sopro, corda e percussão, e arrancaram gritos entusiasmados dos fãs.
“Amiga da Minha Mulher”, música de Avenida Brasil, arrancou da boca dos fãs frases inteiras da letra e colocou um sambinha tímido nos pés. “A Doida” e “Carolina” foram outros sucessos que fizeram o público ressuscitar na segunda parte do show. Antes de cantar a música seguinte, Seu Jorge agradeceu ao público porto-alegrense. “O sucesso dessa música começou aqui em Porto Alegre”, completou. E pelo visto o agradecimento não foi a toa. Burguesinha, burguesinha, burguesinha, só no filé!, foi cantada aos berros pelos fãs mais fieis. O samba tomou conta da pista e do mezanino da casa. Acompanhado pelo coro de êê ôô o cantor saiu do palco.
Mesmo com a falta de apelo por seu retorno, Seu Jorge voltou para o tradicional bis. Pediu desculpas por não lembrar bem a letra da nova música, “mas é com a melhor das intenções”. O que veio a seguir foi uma letra pertinente ao momento que vive o país. “Chega! Precisamos de escola. Chega! Não se vive só de bola. Chega! É o povo brasileiro que sustenta o Brasil inteiro. Brasil, tá na sua hora. Brasil, tem que ser agora. Não é só pelos 20 centavos que estamos lutando”. Quando percebeu que a canção se referia as várias manifestações ao redor do Brasil, o público se emocionou e ficou impossível manter as mãos no bolso, apesar do frio. As palmas e a reação positiva arrancou um sorrisinho no rosto do cantor que continuou a apresentação com “É isso aí”, da compositora Ana Carolina, “São Gonça” e “Quem não quer sou eu”, todas muito aplaudidas.
Para encerrar, uma homenagem ao mestre Tim Maia. “Ora bolas, não me amole com esse papo, de emprego. Não está vendo, não estou nessa. O que eu quero? Sossego, eu quero sossego”. A brincadeira da estátua com a banda fechou o show de duas horas: todos pararam de tocar e congelaram seus movimentos. “Acabou”, sinalizaram outros músicos, mas o público não aceitou. Um por um, os componentes voltaram a se mexer e depois de mais algumas notas, Seu Jorge encerrou sua passada pela capital gaúcha elogiando e agradecendo ao público do Pepsi On Stage.
Além das músicas de seu mais recente CD, o artista também mostrou sua admiração aos compositores nacionais. “Viva o artista brasileiro” foi a frase que introduziu ao repertório “Mas que nada” de Jorge Ben Jor. Seu talento de ator esteve presente na intepretação de Negro Drama, de Racionais MC’s, grupo que fez participação especial na gravação do DVD “Músicas para Churrasco”.