Sábado de Cícero

Na noite deste sábado (7), o músico Cícero levou um grande público, a maioria jovens, ao bar Opinião para escutar as composições dos seus álbuns Canções de Apartamento (2011) e Sábado (2013). Mais do que jovens, também era possível ver muitos casais acompanhando as canções que, de maneira geral, trazem temas do cotidiano dosados por romantismo, fugacidade e evocando certa melancolia em suas letras – elas mais sugerem do que constroem situações.

O artista subiu ao palco empunhando a guitarra um pouco depois das 21h15, acompanhado de Gabriel Ventura na guitarra principal, Bruno Giorgi no baixo, Uirá Bueno na bateria e Bruno Schulz no teclado/sanfona . Abrindo com a atmosférica faixa Fuga nº3 da Rua Nestor, de Sábado, que conta com um bom trabalho de bateria, a plateia começou a acompanhar o músico.  Em seguida, foi a vez da faixa seguinte Capim-Limão, do mesmo álbum.  Meio tímido em cima do palco, Cícero ensaiou uma leve dança e, ainda sem interagir diretamente com o público, tocou Vagalumes Cegos, de Canções de Apartamento,a primeira que empolgou mais no show. Na ocasião, Bruno Schulz assumiu a sanfona e tocou a faixa que traz uma letra inspirada no sensível cotidiano de um casal (Vem cuidar de mim/ Vamos ver um filme, ter dois filhos/ Ir ao parque).

Voltando para o seu último álbum, foi a vez da bela Ela e a Lata, que traz um interessante jogo de palavras sonoro (Vi aviando/ A meia vista feia/ A barulhar, ela/A barulhar, ela) e deixou o público mais ouvindo do que cantando junto. Voltando ao Canções de Apartamento, foi a vez de Açúcar ou adoçante, uma das músicas mais conhecidas da carreira do cantor, cantada pela maioria dos fãs presente (Mas se você quiser alguém para amar, ainda). Antes de tocar a quase monossilábica Fuga n°4, ele agradeceu ao público presente e tentou jogar, para a plateia, alguns dos balões azuis que estavam no palco. Com referência explícita a Caetano Veloso, trazendo versos de You don’t know Me, do álbum Transa (1972), Cícero apresentou João e o pé de Feijão, uma das mais aplaudidas da noite. Inspirado mais na batida de bossa nova, o álbum Sábado encontra em Porta, Retrato, a que foi tocada em seguida,uma rica composição regada por piano, sintetizadores e pequenos solos de guitarra.

Não adianta, porém: é com as músicas do primeiro álbum, O Canções de Apartamento, que o público se empolga mais. Laiá Laiá, marchinha agitada, e Ponto Cego, com ótimo refrão (É sexta-feira, amor) e um ritmo de frevo, ambas regadas a palmas, foram fortemente cantadas pela plateia. Mantendo o mesmo ritmo, a próxima foi a Pra animar o bar, puxando para o baião. Graças a um baixo bem empolgante, a música ficou bem mais agitada que a versão do álbum. Provavelmente a que mais animou o público que cantou letra por letra durante a passagem dessa música foi a Tempo de Pipa, uma das mais conhecidas do artista. Com uma pegada bem carnavalesca e uma letra romântica, que aparentemente conta a história de um casal que precisa se reinventar “para o mundo nascer de novo” (Eu vou te acompanhar de fitas/ Te ajudo a decorar os dias/ Te empresto minha neblina/ Vamos nos espalhar sem linha).

É engraçado que as próximas duas músicas Duas Quadras e Por Botafogo tenham sido tocadas uma após a outra. Ambas são músicas que falam sobre andar, caminhar – a ideia da deriva. A segunda ganhou um caráter muito mais intimista na apresentação, é verdade. Bem bossa nova, lembrando muito o clássico Chega de Saudade, de Vinicius de Moraes. Cícero mais uma vez agradece ao público antes de voltar ao Canções de Apartamento, com a música Pelo Interfone, uma belíssima letra e composição no estilo bossa nova, referente clara ao Tom Jobim na letra (Fala pra ele/ Do disco do Tom Jobim/ Do seu apelido e de mim/E chora). O público cantou toda a letra junto, acompanhado por um ótimo trabalho de teclado.  Antes de tocar a última música, ele agradece mais uma vez ao público presente, aplaudindo a plateia. E então começa Frevo por acaso, que evoca perguntas na letra (Como cê tá? Cê tá legal?), com uma música que vai “crescendo” ao longo do tempo, variando com uma angustiada e circular linha de violão até entrar a bateria ritmada.  Nesse momento, ele sai do palco, se despedindo, mas os músicos não param de tocar.

E, é claro, haveria um bis. A primeira foi Asa Delta, de Sábado, uma música bem agitada, com espaço para toda a banda mostrar virtuosismo nos instrumentos. Outra faixa que ficou bem mais pesada ao vivo do que na versão do álbum. No “pós-bis”, depois dos fãs pedirem mais uma volta, ele cantou a romântica Ensaio sobre ela, de Canções de apartamento, mais uma bela composição (Nem vi você chegar/ Foi como ser feliz de novo/ Nem vi você chegar/Foi como ser feliz) para embalar os casais presentes no show.

Compartilhe
Jornalista, Especialista em Jornalismo Digital pela Pucrs, Mestre em Comunicação na Ufrgs e Editor-Fundador do Nonada - Jornalismo Travessia. Acredita nas palavras.
Ler mais sobre
Memória e patrimônio Reportagem

Centenário é importante para revisar mitos da Semana de Arte Moderna

Processos artísticos Resenha

O Terno e sua simpatia eletrizante