Fotos e vídeo:
Fernando Halal
Há pouco mais de três anos, este que vos escreve concluía uma resenha sobre um show do Autoramas da seguinte forma: (…) “vou ter que bater na mesma tecla de sempre: ok, era uma segunda-feira… Mas será mesmo que não há público em Porto Alegre para o show de uma banda como o Autoramas? Faltou divulgação? Tava muito caro? O lugar era grande demais? Me ajudem a entender a estranha realidade da cidade que um dia já se intitulou a ‘capital brasileira do rock’.”
Utilizo o mesmo parágrafo para demonstrar o espanto que me causou ver, na noite de 10 de agosto, um Opinião ainda mais esvaziado do que em 2012. Novamente uma Segunda Maluca (ok, ok, ir a show às segundas-feiras não é pra todo mundo), com um preço pra lá de acessível (30 pilinhas), a abertura de luxo de Frank Jorge e da dupla Phantom Powers, canja da Bidê ou Balde e, de quebra, dose dupla na cerveja. Com exceção do fator “dia da semana”, tudo indicava uma presença maior do público, o que acabou não acontecendo.
Mesmo sendo uma banda independente, o Autoramas sempre teve considerável popularidade no underground – tanto que gravou um disco e um DVD via crowdfunding, e já garantiu recursos para o novo álbum, também através de financiamento coletivo. Por isso tudo, é um enigma ainda maior a falta de apelo junto aos gaúchos. Sem resposta para esse mistério, só posso dizer: azar de quem não foi.
Depois da curta abertura dos Phantom Powers (provavelmente a banda porto-alegrense com a agenda mais movimentada deste ano), Frank Jorge não pareceu se incomodar com a ausência de público. Com a competência habitual, mandou ver no repertório solo, sem deixar de lado os inevitáveis clássicos da Graforreia Xilarmônica. Abstraindo o fato de que o bar estava quase vazio, foi uma grande noite.
Para quem já havia visto o show do Autoramas, a curiosidade ficava em torno da nova formação. A banda carioca, que desde o início sempre foi um trio – Gabriel Thomaz nos vocais e na guitarra, mais uma baixista e um baterista – virou um quarteto. Para aumentar a expectativa, os nomes desse novo line up eram bem conhecidos na cena nacional: Érika Martins (Penélope), Fred, (Raimundos) e Melvin (Acabou la Tequila e Carbona). O fato de Gabriel e Érika serem casados ajuda, e muito, no entrosamento do grupo. O carisma e a versatilidade da cantora – que toca guitarra, teclado e pandeiro, e ainda desce do palco para dançar junto à plateia – dão a sensação de que ela está ali desde sempre. Seu protagonismo em canções como “Nada a Ver” confirma essa impressão. Na cozinha, o batera Fred e o baixista Melvin, sem firulas e rodeios, mostram que continuam sendo bons instrumentistas.
Como o Autoramas ainda não lançou o novo disco, o repertório foi baseado em músicas confirmadas (“Mundo Moderno”, “Você Sabe”, “Fale Mal de Mim”) e outras nem tanto, como “Kung Fu”, do primeiro álbum solo de Érika, de 2009. Em relação ao show de 2012, uma boa surpresa: desta vez, talvez pela presença de Fred, as músicas que Gabriel compôs para os Raimundos não ficaram de fora. Primeiro veio o hit “I Saw You Saying (That You Say that You Saw)”. Mais adiante, rolou “Aquela”, já com a Bidê ou Balde em cima do palco.
A parceria entre as duas bandas foi o auge da apresentação. A influência dos B-52’s, tão forte para a Bidê quanto para os Autoramas, gerou um poderoso cover de “Private Idaho” (vídeo abaixo). Os gaúchos ainda aproveitaram para tocar sua “Mesmo que Mude”, enquanto Gabriel resgatou, provavelmente a pedido dos amigos, “1, 2, 3, 4”, pauleira dos tempos de Litlle Quail and the Mad Birds. No final, Frank Jorge e Alexandre Birck, também da Graforreia, se juntaram à trupe, finalizando a sessão de nostalgia com “Nunca Diga” e “Buda Baby”. Ao vivo, o novo Autoramas mostrou estar tinindo. Agora é esperar o vindouro disco, O Futuro dos Autoramas, e ver se as expectativas se confirmam.