Fotos e vídeo: Fernando Halal
Os cartazes anunciavam Jupiter Apple. “Mas não era Júpiter Maçã?”, poderia questionar algum incauto. Sim, era. E provavelmente logo voltará a ser. Apple, Maçã, Woody ou simplesmente Flávio Basso. O nome é o que menos importa. A viagem cósmica será intensa em qualquer situação.
Jupiter ao vivo em Porto Alegre é sinônimo de casa cheia, tanto pelas poucas aparições do músico nos últimos tempos quanto pelo culto que se formou em torno dele. Não foi diferente na ocasião do show do dia 13 de agosto, no Opinião.
Sim, há um culto em torno de Jupiter Apple. E não é difícil entender o motivo. Ao contrário da grande maioria de seus contemporâneos, ele não se apega desesperadamente ao passado para sobreviver. Até relembra os bons tempos do hoje combalido “rock gaúcho”: para quem sente falta dos Cascavelletes, “Morte por Tesão”; para os saudosos de TNT, “Cachorro Louco”. Porém, dentro de um show tão cheio de possibilidades, esses hits acabam virando números coadjuvantes.
De cabelo ruivo (“agora sou do movimento da peruca”, chegou a dizer em entrevista recente), óculos estilosos, jaqueta de couro e jeans, Jupiter ganha o público ao subir no palco, simplesmente por ser autêntico. A comunicação às vezes é hilária, e, em certos momentos, surreal. Pode rolar uma desafinada aqui, um vocal mais baixo ali… Mas a imprevisibilidade não é um dos pontos fortes de qualquer performance artística?
No repertório, as novas “Constantine’s Empire” e “They’re All Beatniks” sintetizam a atual vibe do músico, que, mergulhado no folk, ainda apresenta uma irreconhecível versão de “Modern Kid” e um cover de “I Want You”, de Bob Dylan. No entanto, o povo vai à loucura mesmo é nas canções lisérgicas em língua pátria, como “Querida Superhist X Mr. Frog”, “As Tortas e as Cucas”, “Beatle George” e “Síndrome do Pânico – as primeiras do aclamado A Sétima Efervescência (1997) e as últimas de Uma Tarde na Fruteira (2008), que também já virou clássico.
A tropicalista ““Marchinha Psicótica de Dr. Soup” é, como se espera, um momento de transe coletivo, enquanto “Mademoseille Marchand” faz Jupiter homenagear, de um jeito torto, as mulheres de sua terra (“já estive na França, então sei como são maravilhosas as porto-alegrenses”). E meio à soft porn “Essência Interior”, dá um recado em tom de deboche: “odeio gente brocha”. Risos condescendentes na plateia indicam que ele não é o único.
A despedida vem com “Um Lugar do Caralho”, obrigatória nos shows do cara desde sempre. “Miss Lexotan 6mg Garota”, pra variar, fica de fora, mas não tem como reclamar do saldo final. Houvesse um cartaz na frente do bar escrito “viagem garantida ou seu dinheiro de volta”, duvido muito que alguém iria em busca de ressarcimento.
Gravamos um vídeo do show, olha aí: