Fotos: LucasFilm/Divulgação
Luke Skywalker voltou ao seu planeta natal, Tatooine, na tentativa de salvar seu amigo Hans Solo das garras do desprezível bandido Jabba, o Hutt. Luke ainda não sabe que o Império Galáctico iniciou secretamente a construção de uma nova estação espacial bélica, mais poderosa que a primeira e temida Estrela da Morte. Quando estiver pronta, esta arma definitiva certamente significará o fim do pequeno grupo de rebeldes que luta para devolver a liberdade à galáxia…
Faz alguns meses assisti a uma comunicação num Colóquio de literatura que falava sobre a adaptação cinematográfica dos livros de fantasia. Uma das conclusões do trabalho apresentado talvez seja óbvia para os nascidos entre os 1980 e os 2000: o cinema realimentou esse gênero literário nas últimas décadas e, ao mesmo tempo, tem sido cada vez mais alimentado por ele. Adaptações ou roteiros originais, nossa infância e adolescência deve muito a sagas fantásticas, como Harry Potter e Senhor dos Anéis, e claro, Star Wars, que, atravessou o tempo ganhando novos seguidores. Confesso que meu coração pré-adolescente foi tomado completamente pela trilogia de Tolkien, mas o curso natural da vida e dos encontros com outros nascidos na Geração Z fez com que eu também me contagiasse, talvez tardiamente, pela saga de George Lucas.
Desse contágio faz parte assistir aos seis filmes numa maratona, depois de um caloroso debate sobre qual a melhor ordem para fazê-lo. Eu costumo defender a ordem dos Episódios e não a do lançamento. Não por ter alguma preferência conservadora pela linearidade, mas porque o sexto Episódio tem, como se espera de um final – ainda que provisório -, diversos momentos de clímax e revelação que me parecem ganhar força depois de percorridas as muitas horas de aventura anteriores.
Fazem parte desses instantes reveladores as cena de reconhecimento, bem ao estilo das tragédias gregas, em que Luke Skywalker descobre que sua irmã gêmea é a Princesa Leia e, mais tarde, a cena em que ele conta a ela esta descoberta. Além disso, é no Retorno de Jedi que Yoda cumpre sua última missão em vida, dizendo a Skywalker que ele não pode fugir ao destino: deverá enfrentar Darth Vader, indo ao seu encontro na Segunda Estrela da Morte. Sim, o Episódio VI também é quando pai e filho, Sith e Jedi, Anakin e Luke tem o seu derradeiro confronto, colocando à prova o mal e o bem que há dentro de si, diante do Imperador Palpatine, que tenta fazer com que Luke passe para o lado negro da Força, como seu pai.
De fato: muitas emoções – e elas não param por aí. Um dos pontos fortes do filme e, podemos dizer, da primeira trilogia, é a relevância da figura feminina representada pela Princesa Leia. Independente e corajosa já nos outros filmes, aqui sua equivalência com relação aos outros protagonistas fica ainda mais clara. É ela quem mata Jabba, o Hutt, que mantivera Han Solo hibernando em carbonite; é ela quem primeiro faz contato com os Ewok, que serão fundamentais para a operação da Aliança Rebelde contra a Segunda Estrela da Morte. Em nenhum momento Leia é a princesa indefesa que precisa ser resgatada, ao contrário, é a líder que toma decisões cruciais para o desenrolar da história. Alguns poderiam argumentar que é por causa desse filme que Leia virou um símbolo de sensualidade para os fãs de Star Wars, devido à cena em que aparece vestida num traje de estilo odalisca e presa por uma corrente no pescoço, sob o jugo de Jabba. Ao meu ver, essa cena não tem caráter apelativo e funciona para nos deixar com ainda mais nojo do já suficientemente asqueroso vilão que, lembremos, é morto pelas mãos de Leia, com a mesma corrente que antes a prendia. Cena que – me agrada pensar – não deixa de representar a vitória da mulher contra o seu abusador.
Além desses pontos fortes, destacaria no Retorno do Jedi o clima de leve humor que, apesar de ser comum nos outros filmes, chama neste ainda mais atenção. Os diálogos entre C-3PO e R2-D2, as falas de Chewbacca e o comportamento dos Ewoks são elementos que quebram a tensão de base da narrativa, tornando-a mais divertida. Também perpassa o filme um espírito cumplicidade entre os protagonistas, como se agora fossem mais evidentes os laços afetivos que os mantêm reunidos, para além dos determinantes políticos da Aliança Rebelde.
Para concluir, creio que já deu para notar que esse é um dos filmes em que os diálogos e interações particulares entre os personagens são tão ou mais importantes que as batalhas e as deliberações estratégicas. Menos pelos efeitos visuais e os grandes cenários espaciais, o Episódio VI nos envolve, sobretudo, pela trajetória de transformação e as cenas de revelação das personagens.