por Adriana Lampert e Naira Hofmeister, do projeto Dossiê Palcos Públicos
Artistas que integram o projeto Usina das Artes promoveram ampla programação aberta ao público ao longo deste domingo, 23, na Usina do Gasômetro. Entre apresentações de dança, teatro, exercícios de improvisação e performances, os produtores culturais denunciaram descaso da Prefeitura Municipal com o espaço, cuja previsão de fechamento para reforma acendeu a luz de alerta nos grupos, que temem a privatização da Usina do Gasômetro.
Sem contar com informações oficiais da prefeitura, funcionários e artistas comentam que já há negociações em andamento para conceder a Usina do Gasômetro à iniciativa privada. Até cifras são mencionadas: em troca de um pagamento anual de um milhão de reais, uma empresa assumiria a administração do prédio por 20 anos.
“Ninguém é contra a reforma do espaço, que realmente precisa de melhorias. Mas queremos saber qual o planejamento e o que será feito com os grupos do Usina das Artes”, comenta uma integrante do Teatro Ateliê.
Os grupos aguardam o anúncio da realização de uma audiência pública, onde a Prefeitura, através da Secretaria de Cultura, deverá repassar informações concretas. O assunto é acompanhado pelo departamento jurídico do Sindicato dos Artistas e Técnicos de Espetáculos de Diversões do Rio Grande do Sul (Sated/RS).
O projeto de reforma da Usina do Gasômetro foi apresentado à comunidade artística em abril e está na etapa de finalização antes da abertura de licitação para execução das obras. Entre as mudanças previstas para o espaço, está o deslocamento da Sala P.F. Gastal para um cinema no pavimento térreo. O teatro Elis Regina, fechado desde 2010, também será realocado. Haverá aumento da área construída e reformulação de banheiros e elevadores.
Embora tenha havido debate sobre o projeto de requalificação, os artistas se queixam da falta de informações sobre o futuro do projeto Usina das Artes, que completou 11 anos de atividades e reúne dezenas de grupos locais que tem suas salas de ensaio na Usina. Ninguém sabe se a Prefeitura vai realocar os produtores culturais, que são selecionados via edital, ou se o projeto será interrompido.
Terraço interditado ao público recebe festas particulares
Se o temor é que a reforma da Usina do Gasômetro redunde na entrega do espaço à iniciativa privada no futuro, o momento atual já é de preocupação pelo uso privado de determinados espaços dentro do centro cultural.
Exemplo disso é o terraço de fronte ao Guaíba, que embora interditado ao público, tem servido de cenário a festas particulares segundo artistas que circulam no local. Os beneficiários desse uso são entidades do comércio, grupos religiosos e até movimentos separatistas, que inclusive estariam cobrando ingresso para estes eventos.
Outra reclamação se refere ao orçamento disponível para a manutenção do complexo. Ainda que os recursos disponíveis sejam da ordem de R$ 120 mil por ano, os artistas se queixam que não há melhorias no espaço: “Se nada tem sido feito no local, para onde vai este dinheiro?”, questionou um integrante do Grupojogo.
Estas e outras perguntas permanecem no ar, uma vez que os grupos também passaram a ficar de lado no que se refere ao planejamento do poder público em relação à administração do espaço.
Dentre as denúncias mais graves, foi lembrado que as portas para saída de emergência em caso de incêndio (que só foram inseridas no complexo após uma interdição do Ministério Público) têm permanecido continuamente chaveadas. Goteiras, má conservação das salas, infraestrutura elétrica precária em algumas salas, riscos de queda de parte dos tetos em alguns pavimentos, entre outros exemplos de desmantelamento visíveis no espaço, geram preocupação entre os artistas.
Arte para resistir
O evento deste domingo, chamado (R)EXISTE Usina das Artes, levou ao público apresentações de teatro, dança e circo, além de oficinas e intervenções. A organização e realização foram conjuntas, reunindo integrantes dos grupos Necitra, Depósito de Teatro, Grupojogo, Eduardo Severino e Cia de Dança Silvia Canarim, Cia Espaço em Branco, Levanta Favela, Teatro Ateliê e Clareira de Teatro, Ânima Cia de Dança, Trupe Zona de Teatro e Cia Rústica de Teatro.
* Este é um texto do projeto Dossiê Palcos Públicos de Porto Alegre, que está captando recursos através de um financiamento coletivo para a realização de uma grande reportagem sobre a Usina do Gasômetro
Os comentários estão desativados.