“O que pensa você do Brasil de hoje?” Em junho de 1968, anos de chumbo, o dramaturgo Augusto Boal fez essa pergunta aos artistas de São Paulo. O resultado foi a primeira Feira Paulista de Opinião, espetáculo que ocorreu no Teatro de Arena. Agora, 50 anos depois, a Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, em parceria com o Memorial Luiz Carlos Prestes, chamou os artistas porto-alegrenses a pensarem a situação atual da cidade e do país.
Até o dia 29 de julho, o novo espaço cultural de Porto Alegre está de portas abertas aos mais de 50 artistas e coletivos – identificados com a esquerda do espectro político – que responderam ao chamado. São atividades diárias, desde exibição de filmes nacionais, apresentações de teatro e mesas de debate sobre literatura, todas gratuitas. A programação foi aberta no último domingo (15), com um cortejo. “No golpe midiático-jurídico-parlamentar que vivemos hoje, os artistas se encontram na sua maioria desorganizados e isolados. A arte continua sendo potencialmente política e acredito que a nossa Feira seja uma oportunidade dos artistas de Porto Alegre de uma forma organizada e solidária colocarem para a cidade e o país a sua Opinião sobre os tempos difíceis que estamos vivendo”, destaca Paulo Flores, um dos fundadores da Tribo.
Em uma cidade que viveu episódios recentes de censura institucional e de grupos obscuros, “é fundamental que a arte se posicione a todo momento e agora mais do que nunca nessa onda conservadora e de pensamento fascista que se espalhou pelo Brasil. Citando Carlos Marighella: ‘É preciso não ter medo, é preciso ter a coragem de dizer”, diz Paulo.
A proposta de reunir os artistas – e o público – identificados com a função social da arte é recorrente em Porto Alegre, que recentemente realizou eventos de protesto contra o governo de Michel Temer em espaços públicos, além do ato contra a censura ao Queermuseu. A Feira de Opinião se diferencia por trazer uma programação extensa, ao longo de 15 dias, que pode movimentar o calendário cultural da cidade. Vale lembrar que, no ano passado, neste mesmo mês, o Festival de Inverno de Porto Alegre trazia nomes do outro lado do espectro político para palestrar na cidade, financiados com verba pública. Agora, artistas porto-alegrenses, em um movimento de resistência, apresentam ao público sua visão sobre o Brasil, refletindo sobre temas como desigualdades social, racismo e a questão indígena. A Feira de Opinião de Porto Alegre é patrocinada por sindicatos da capital.
Novos ares para o jornalismo
O Brasil de Fato, publicação fundada em 2003 pelo MST no Fórum Mundial Social de Porto Alegre, acaba de lançar sua publicação gaúcha. O jornal, que já tem edições em alguns estados, apresentou o tabloide porto-alegrense na Feira de Opinião nessa terça-feira (17) e terá distribuição gratuita. “Sua própria presença já significa a oferta de um enfoque diferenciado dos fatos, permitindo uma pluralidade que a mídia empresarial promete na propaganda e sonega na realidade”, afirma o jornalista Ayrton Centeno, um dos editores do jornal.
SERVIÇO:
Feira Brasileira de Opinião de Porto Alegre – ContraGolpe
Data: 15 a 29 de julho de 2018
Local: Memorial Luiz Carlos Prestes – Av Ipiranga, 10 (esquina com Edvaldo Pereira Paiva), Porto Alegre (RS)
Horário: Terças a sextas, das 15h às 22h, sábados, das 10h às 22h; e domingos, das 14h às 20h.
Entrada gratuita.
Programação
15 de julho – Domingo
18h30 – Apresentação de Dança da Escola Preparatória de Dança da EMEF Loureiro da Silva: Nós (sapateado americano)
Curiosidade (dança contemporânea)
Havana (sapateado americano)
20h30 – Cinema – Exibição do filme “O Processo”, de Maria Augusta Ramos
18 de julho – Quarta-feira
15h – Oficina de teatro Beckett
20 de julho – Sexta-feira
11h30 – Oficina de ilustração com Laura Castilhos
22 de julho – Domingo
24 de julho – Terça-feira
15h – Oficina de teatro com grupo Comparsaria
17h – Dança – Maria Falkenbach e convidados
Poética Planetaria Subtropicalista
Josué Krug
Roberto Corbo
Censuradas do Rock dos Anos 80
Sex-teto
Johann Alex de Souza
26 de julho – Quinta-feira
Otto Guerra
18h – Debate Voz política da poesia, Ronald Augusto e Renato Motta
28 de julho – Sábado
18h – Debate “De 1964 a 2016 – Os Golpes e as riquezas do Brasil”, com o professor da Ufrgs e sociólogo Benedito Tadeu César e a liderança dos petroleiros, o engenheiro Edson Flores. Ao final do debate um Manifesto será escrito pelos artistas participantes da Feira Brasileira de Opinião – Porto Alegre – Contragolpe – 2018
19h – Show musical com Tânia Farias e Mario Falcão, Demétrio Xavier, Glau Barros e Encruzilhada do Samba
29 de julho – Domingo
14h – Beckett, apresentação da produção da oficina de teatro
15h – Espetáculo “Caliban – A Tempestade de Augusto Boal”, do grupo Ói Nóis Aqui Traveiz
17h – Oficinau, Sarau Poético – Mário Pirata e convidados
18h30 – Leitura do MANIFESTO