Medidas emergenciais para o setor cultural

Ilustração: Joana Lira 

O Fórum de Ação Permanente Pela Cultura, em parceria com diversas organizações, grupos e associações culturais do Rio Grande do Sul, divulgou nesta quarta-feira (18) um manifesto pedindo aos governos federal, estadual e municipal medidas para conter o colapso da área durante a crise da Covid-19.

Até o momento, assinam o texto o Fórum de Ação Permanente Pela Cultura, o SATED/RS, o Conselho Municipal de Cultura de Porto Alegre, o ICOMOS Brasil Núcleo Rio Grande do Sul, a Associação Riograndense de Artes Plásticas Francisco Lisboa, o Colegiado Setorial de Memória e Patrimônio/RS, o Movimento dos Atores e Atrizes do RS, a Oigalê Cooperativa de Artistas Teatrais, a Fundação Municipal de Artes de Montenegro/RS, o Conselho de Políticas Culturais de São Leopoldo, o SindiMus/RS, o Fórum de Enfrentamento a o Extermínio e o Genocídio da Juventude Regional Sul (RS-SC-PR), o Reconexão Periferias – RS e o Fórum gaúcho do Hip Hop.

Confira a íntegra:

por Fórum de Ação Permanente Pela Cultura

O cenário do setor cultural no Brasil com a chegada dos impactos do coronavírus foi definido como uma tempestade perfeita pelo professor de economia da cultura da UFRGS e da Queen Mary University de Londres, Leandro Valiati. No mercado global a perda já é estimada em U$ 5 bilhões e a tendência é que aumente. Já por aqui ainda não há números para expressar esse abalo. Segundo o IBGE, o conjunto dos trabalhadores e trabalhadoras nas atividades culturais no Brasil chega a soma de 5,2 milhões de pessoas.

A pandemia atinge a espinha dorsal da sustentabilidade econômica da cultura no país: o público. Em um cenário com carência de políticas públicas e ataques dos governos ao setor, o cancelamento de feiras, shows e queda na frequência em salas de cinema podem agravar a já crítica realidade dessa área. 

No cenário mundial, Países já se organizam para criar medidas de apoio ao setor criativo, uma das indústrias mais potentes do mundo moderno. O governo alemão já anunciou uma política de apoio financeiro aos artistas, fazedores de cultura e produtores culturais. Num momento em que a ameaça de contaminação por coronavírus exige o fechamento de museus, cinemas e casas de espetáculos, o Estado alemão avisa que vai prover auxílio financeiro aos artistas e fazedores de cultura. 

No RS, pesquisas apontam que as atividades culturais e criativas já representam 13% da indústria de transformação do RS, gerando cerca de R$ 6,3 bilhões anualmente, segundo dados da Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul. A cultura já representa mais de 130 mil empregos formais, sem contar os informais, com contingente superior, por exemplo, aos postos de trabalho gerados na indústria calçadista ou pelo setor automobilístico e se aproxima, inclusive, de áreas com alto poder de geração de vagas, como é o caso da construção civil. Atualmente, o RS registra também mais de 48 mil microempreendedores individuais que atuam em áreas como publicidade, artes visuais, ensino da cultura, design e moda, entre outras atividades. O Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos e Diversões RS conta com um cadastro de mais de 5.000 sócios e já emitiu mais de 16 mil registros profissionais.

Todo este setor está atingido pelos impactos do coronavírus. O Governo Federal anunciou um pacote de medidas emergenciais que visa injetar até R$147,3 bilhões na economia do país nos próximos três meses. No entanto não existe nenhuma medida de apoio concreto para a cultura e toda a sua cadeia produtiva, principalmente para as trabalhadoras e trabalhadores, até porque a cultura representa mais empregos que as indústrias formais. 

Os danos que esse vírus vai causar pro setor cultural serão maiores proporcionalmente do que no resto da economia. A cultura, que já estava sendo contingenciada com orçamentos congelados e corte de políticas públicas, vai sofrer mais do que os outros setores.

Porque a Cultura é alma e as identidades do nosso povo e seus artistas e trabalhadores e trabalhadoras, com dignidade, trabalho e dedicação, traduzem a alma da nação e seu povo em poesia, canção, teatro…em todas as expressões artísticas que nos fazem reconhecidos como povo nas praças, teatros, casas de espetáculos, galerias, ruas.

Porque Cultura é um Direito Social Básico.

Porque nós, trabalhadoras e trabalhadores da Cultura, artistas merecemos respeito e garantias para poder sobreviver e seguir, após esta crise, criando, atuando, trabalhando.

Por Isso defendemos:

  • A implementação de pacote de medidas emergenciais para o setor cultural e criativo do País, dos Estados e das Cidades através de fundos e programas de assistência financeira.
  • Solicitamos urgência na criação de um fundo perdido emergencial para cultura, a fim de preservar as trabalhadoras e trabalhadores da cultura em reconhecimento por sua contribuição pelo desenvolvimento humano da sociedade, como investimento social direto.
  • A Criação de comitês de gestores destas medidas com participação das entidades representativas do setor nas 3 esferas
  • Suspensão da cobrança ou maior prazo para o pagamento de contas e taxas (como a de fornecimento de água). Bem como, negociação com concessionárias de luz – intermediada pelas autoridades públicas – através de descontos, diminuição ou parcelamento das contas para os espaços culturais.

Governo Federal

  • Liberação imediata dos recursos do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) e do Fundo Nacional de Cultura (FNC) – execução dos R$ 300 milhões retidos –  que estão parados nos últimos meses. 
  • Pagamento de cachês atrasados e das datas suspensas/adiadas pelo coronavírus.
  • Implementação de programa de assistência financeira renda mínima para os trabalhadorxs da área da cultura e os trabalhorxs informais através de cadastro de sindicatos, dados oficiais, e também métodos de comprovação do trabalho informal na cultura.
  • Linha de crédito para equipamentos culturais ou renegociação de crédito, com maior tempo de carência. Recursos liberados através do Bancos Públicos federais (CEF, BB ou BNDES).
  • Suspensão de impostos para espaços culturais.
  • Suspensão das cobranças e taxas sobre MEIs e MEs da área cultural e acesso aos benefícios do INSS.
  • Pagamentos relacionados a habitação serem suspenso com intermediação do governo federal.
  • Fixação imediata do preço do botijão de gás em R$ 49 para as famílias de baixa renda em todo o país.

Governo Estadual

  • Criação de comitê estadual de combate/resposta à COVID-19, com a participação virtual de entidades culturais e de trabalhadores da cultura, bem como proprietários ou gestores de equipamentos culturais.
  • Realização imediata de edital para reconhecimento aos trabalhadores da cultura, como Pernambuco faz com o seu patrimônio vivo;
  • Pagamento de cachês atrasados e das datas suspensas/adiadas pelo CoronaVírus
  • Pagamento dos editais do FAC com suspensão dos prazos de execução e também de prestação de contas. Obrigando o pagamento de cachês e remuneração de técnicos.
  • Repasse de recursos para os Pontos de Cultura em funcionamento, possibilitando prazos mais dilatados para a execução das ações e atividades previstas.
  • Suspensão da conta de luz dos equipamentos culturais e espaços de circulação da produção cultural.
  • Posicionamento claro da SEDAC sobre os equipamentos culturais geridos por ela, para o reagendamento das atividades.
  • Edital emergencial com recursos do FAC para profissionais da cultura e fazedores de cultura (debater com o SATED, SINDIMUS e outras entidades que devem ajudar nesta construção), com pagamento imediato aos proponentes e execução posterior o período da pandemia.
  • Suspender cobranças de impostos estaduais que afetam a cadeia produtiva da cultura.
  • Linha de crédito do Banrisul com carência de no mínimo 90 dias e juros baixos.
  • Suspensão das taxas de água e esgoto por parte da CORSAN dos Equipamentos Culturais
  • Suspensão das taxas de gás encanado para bares e equipamentos culturais afetados pelo fechamento destes espaços com intermediação do executivo estadual.

Governo Municipal

  • Criação de comitê municipal de combate/resposta à COVID-19, com a participação virtual de entidades culturais e de trabalhadores da cultura, bem como proprietários ou gestores de equipamentos culturais.
  • Suspensão imediata dos processos de contratualização para que o debate possa ser feito de forma mais consistente.
  • Através do Fumproarte, há três anos sem recursos para projetos novos, ou ainda os Fundos Municipais de Cultura, as prefeituras podem alcançar recursos aos grupos e, quando superarmos a crise, apresentarão à população seus produtos! 
  • Pagamento de cachês atrasados e das datas suspensas/adiadas pelo coronavírus
  • Auxílio a grupos culturais e equipamentos culturais atingidos diretamente; Isenção de pagamento do IPTU e do ISSQN até a normalização das atividades
  • Auxílio para professores e escolas ligadas a cultura (música, dança, circo etc). Suspender cobranças de impostos municipais até a normalização da situação.
  • Suspensão dos impostos de bares e casas que oferecem música ao vivo, e manter os pagamentos aos profissionais envolvidos na produção artística após o cancelamento das apresentações.
  • Suspensão das taxas de água e esgoto por parte do DMAE ou Empresas Municipais de Saneamento para os bares e equipamentos culturais atingidos pelo decretos municipais. 

Assembleia Legislativa

  • Protocolar o Projeto de Resolução em 2020 e Implementar em 2021 a Mostra Gaúcha de Artes Cênicas
  • Garantir a execução dos seus projetos culturais em andamento de 2020, mesmo que com formato reformulado
  • Realizar o Observatório da Cultura do RS, através da Comissão de Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia, em parceria com o Sistema de Informações e Indicadores da Cultura 

O Manifesto pode ser assinado no link http://bit.ly/Covid19ApoieMedidasParaCultura

Compartilhe
Ler mais sobre
Comunidades tradicionais Processos artísticos Resenha

Do ventre da árvore do mundo vem “O som do rugido da onça”

Direitos humanos Políticas culturais Reportagem

Com descentralização de recursos, cineclubes levam cinema a comunidades rurais e periféricas do país