Foto: Ricardo Stuckert/divulgação

Entidades representativas da classe artística declaram apoio a Lula; sertanejos estão com Bolsonaro

Associações e sindicatos de diferentes categorias da classe artística declararam apoio a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas últimas semanas durante a campanha de segundo turno das eleições de 2022. Entre as entidades que anunciaram publicamente o endosso, estão o Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões de São Paulo (Sated-SP), a Associação de Produtores de Teatro (ATPR) e a Associação Brasileira de Festivais Independentes (Abrafin).

Nas redes sociais, o Sated-SP anunciou que “ vê com muita preocupação a conjuntura política nacional e estadual”. A entidade elencou fatos como a censura, os cortes orçamentários na cultura, a precarização do trabalho e crescimento da fome no Brasil para se posicionarem favoráveis às campanhas de Lula e Haddad, candidato a governador do estado.

Já a ATPR realizou um encontro no Rio de Janeiro em defesa da candidatura de Lula. O objetivo foi “concentrar esforços que nos  permitam falar para além de nós mesmos, e construir uma agenda de  mobilização para eleger Lula e por fim ao pesadelo que desgoverna o Brasil”.

No primeiro turno, a entidade havia publicado uma carta aos presidenciáveis com 10 propostas para a cultura. O documento alerta para a “intensa demonização dos profissionais do setor, atribuindo-se a eles injusta pecha de sugadores de dinheiro público” e lembra que, na pandemia, os artistas trabalharam em prol da saúde mental do público, muitas vezes de graça. A carta também critica as tentativas de censura do governo federal e as medidas de desmonte nos órgãos oficiais.

A Abrafin, associação patronal com mais de 100 festivais de música associados, divulgou uma publicação com 5 motivos do porquê trabalhadores da cultura desaprovam o governo Bolsonaro (PL). Um dos elementos é o veto do governo às leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc. “Um país civilizado está diretamente ligado a um governo que tenha diálogo e investimento na cultura. Precisamos voltar a cultura para o centro da mesa”, diz o post.

O coletivo de artistas 342 Artes, capitaneado por Paula Lavigne, vem se engajando da campanha com a produção voluntária de vídeos a favor de Lula. O grupo surgiu em 2017 por ocasião da censura à exposição Queermuseu. Desde o primeiro turno, o coletivo tem mobilizado diversos artistas, como Caetano Veloso e Fernanda Montenegro, em prol da candidatura de Lula e da democracia, com campanhas virais como a #ViraVoto.

Críticas ao governo Bolsonaro e apoio à democracia

Outras entidades não declararam voto, mas lançaram notas públicas nas quais criticam, de forma explícita ou velada, a gestão do governo Bolsonaro na área da cultura e da liberdade de expressão. Em carta divulgada em 9 de setembro, a Associação Brasileira de Autores Roteiristas (Abra) afirma que a cultura vem sofrendo ataques incessantes e que “a democracia é um processo que exige alerta constante e união madura e ininterrupta de toda a sociedade – o que inclui a nossa classe profissional organizada – para nos protegermos de quaisquer avanços antidemocráticos que ameaçam a nossa sobrevivência”.

Ainda no audiovisual, os sindicatos que representam os trabalhadores do setor em 25 estados e no Distrito Federal (a exceção ficou com o estado do Paraná) elaboraram um manifesto coletivo publicado no site do Sindcine. O texto aponta que as medidas de desmonte voltadas para o setor têm motivação ideológica. “O atual governo, reacionário e com tendência totalitária, não aprecia o conteúdo da produção nacional, que muitas vezes retrata as injustiças e desigualdades em que vive a maior parte da população”, diz o documento.

Na semana passada, a Academia Brasileira de Letras (ABL) lançou nota assinada pelo presidente da instituição, Merval Pereira, em defesa da democracia e da pluralidade cultural. “Opomo-nos a práticas ofensivas à liberdade de expressão, à diversidade étnica e de gênero. Manifestamos nosso irrestrito apoio à ciência, à preservação ambiental e nosso profundo respeito ao povo de todas as regiões do país”.

Já o Fórum de Entidades em Defesa do Patrimônio Cultural Brasileiro, instrumento criado com o objetivo de denunciar as ações do governo Bolsonaro na área do patrimônio cultural, enviou carta com propostas aos presidenciáveis ainda no primeiro turno, manifestando preocupação com a democracia. 

Segundo o Fórum, “o desmonte das políticas públicas no campo da cultura e do patrimônio atingiu diretamente os detentores, artistas, técnicos, especialistas e servidores que trabalham incansavelmente na sua proteção e preservação. Some-se a esta situação, a retomada de métodos inquisitoriais de gestão, por meio da vigilância policialesca, ameaças e utilização de processos administrativos como estratégia de coação”.

Integrante do Fórum de entidades, o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB) se manifestou também em carta individual: “Nossa escolha é, claramente, entre a civilização e a barbárie, por um país justo e melhor, próspero, livre, democrático, feliz, esperançoso e em paz”.

Sertanejos com Bolsonaro

Um grupo informal de cerca de 20 cantores da música sertaneja se reuniram esta semana no Palácio do Alvorada com o presidente Jair Bolsonaro. Alguns cantores falaram em nome do grupo. Leonardo citou uma fake news de que o governo do PT fecharia igrejas e chamou o público a ir votar. “O pior cego é que não quer ver. Vocês isentões, covardes. Sai de casa, leva seu vizinho, seu amigo”. Gustavo Lima disse que o voto em Bolsonaro é pelo “idealismo da família, dos filhos e sobre o agro”. O cantor Chitãozinho disse que Bolsonaro “consertou o Brasil”. 

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Nortista vivendo no sul. Escreve preferencialmente sobre políticas culturais, culturas populares, memória e patrimônio.
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