*Atualizado às 11h33 de 08/05
As comunidades tradicionais do Rio Grande do Sul, principalmente povos indígenas, terreiros e quilombos urbanos de Porto Alegre, foram atingidos pelas enchentes que já deixaram 95 mortos, 131 desaparecidos e 48 mil pessoas resgatadas em abrigos. Até o momento, segundo levantamento da Funai, 1.846 famílias indígenas foram atingidas diretamente, 5.415 indiretamente e 148 famílias estão ilhadas na Terra Indígena Rio da Várzea, no município de Liberato Salzano.
Famílias Kaingang e Charrua, divididas em 47 aldeias, 14 Terras Indígenas, uma reserva indígena e 63 indígenas de contexto urbano, são as etnias afetadas na tragédia. Nenhum óbito foi confirmado até o momento entre os indígenas. O Ministério dos Povos Indígenas e Funai informaram que trabalham na remoção de famílias ilhadas e na emissão de ofício para distribuição de cestas de alimentos.
O cineasta guarani Vherá Xunú contou à reportagem do Nonada que está com dificuldades de entrar em contato com parentes. Muitas cidades do estado estão sem luz e com serviço de dados nos smartphones oscilando. Um levantamento de Organizações da Sociedade civil aponta pelo menos 80 comunidades afetadas no estado. Confira o mapa aqui.
Na cidade de Porto Alegre, pelo menos dois dos 11 quilombos urbanos foram atingidos. No início da tarde desta segunda-feira (6), os moradores do Areal da Baronesa, que até então estavam a salvo, foram surpreendidos pela água, já que o nível subiu muito em poucos minutos. As famílias conseguiram sair apenas com a roupa do corpo e foram resgatadas, mas o nível do alagamento não parou de subir na região. Berço do carnaval de Porto Alegre, o Areal da Baronesa foi certificado pela Fundação Cultural Palmares em 2002 e titulado em 2005.
O Quilombo dos Machado, na zona norte, não foi alagado, mas está sem água desde domingo (5). A comunidade está sendo um ponto de ajuda e resgate dos desalojados na região do Sarandi, inundada pelo extravasamento de um dique. O Sarandi foi um dos muitos bairros periféricos nos quais a grande maioria das famílias teve que deixar suas casas.
Também há relatos de terreiros e comunidades de matriz africana que foram completamente inundados na enchente. Na região metropolitana de Porto Alegre, casas como o Ilê Axé Oyawoyê, terreiro de candomblé da Nação Ketu, em São Leopoldo, e o Terreiro Palmas de Luz, em Montenegro, estão debaixo d’água. “No dia 04/05 fomos surpreendidos com a invasão do Rio dos Sinos em nosso axé, nosso espaço foi totalmente tomado por água, assim como diversos locais do RS. Graças aos orixás nossa integridade física foi preservada, mas tivemos muitas perdas materiais em nosso espaço sagrado, perdemos praticamente tudo que tínhamos lá”, informa o terreiro Ilê Axé Oyawoyê. Na Cidade Baixa, em Porto Alegre, o Ilê Nação Oyó, um dos maiores terreiros da região, com mais de 60 anos de história, foi alagado nesta terça-feira (7).
Em nota, o Ministério da Igualdade Racial (MIR) disse que monitora a situação das comunidades quilombolas, ciganas e povos e comunidades tradicionais de matriz africana. Segundo o MIR, o Rio Grande do Sul tem sete mil famílias quilombolas, 344 famílias ciganas e aproximadamente 1300 famílias de terreiros.
Como ajudar
Quilombo do Areal da Baronesa: PIX alicegkasper@gmail.com (Alice Goulart Kasper)
Quilombo dos Machado: PIX quilombodosmachado@gmail.com (Vanda Tamires da Silva Antunes)
Terreiro Ilê Axé Oyawoye: Vakinha
Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul( ARPINSUL): PIX 566601e8-72b1-4258-a354-aa9a510445d1