Leonardo Nascimento, especial para o Nonada Jornalismo*
No Alto Rio Negro (Noroeste Amazônico) vivem dezenas de povos, que praticam a tolerância, a diversidade e a diplomacia, características que o estilista Sioduhi considera fundamentais em sua trajetória no mundo da moda. Seu povo, Piratapuya, originário da região, é “gente-peixe”, e aparece homenageado no logotipo de sua marca, assim como em diversas outras referências que surgem em suas criações.
Depois de um período vivendo em São Paulo, Sioduhi voltou para o Amazonas, por acreditar que seria necessário apoiar a cadeia produtiva de seu estado. Os desafios de ser um jovem empreendedor amazônico, indígena e integrante da comunidade LGBTQIAPN+ são imensos. No entanto, as dificuldades nunca impediram Sioduhi de seguir trabalhando para descentralizar a moda nacional e demarcar novos territórios.
Nos conhecemos pessoalmente aqui em Manaus, onde estou passando uma temporada para realizar pesquisas para o meu doutorado em antropologia social. Já nos seguíamos nas redes sociais há algum tempo, e, assim que cheguei na cidade, fui conhecer o seu ateliê, localizado algumas ruas abaixo de onde estou hospedado.
Ao longo dos dias, visitei Sioduhi outras vezes, para conversarmos despretensiosamente. Acompanhei-o em entrevistas na televisão, oficinas com jovens indígenas, reuniões de empreendedorismo, aberturas de exposição, cafés da tarde, shows, bares e festas, assim como na produção das fotos e vídeos de sua campanha. Pude vê-lo gargalhar diversas vezes, um traço marcante de sua personalidade. Sioduhi é um jovem doce e extremamente gentil, sobretudo quando se sente confortável.
No entanto, com o passar das semanas, ele se mostrava apreensivo com os inúmeros impasses que surgiam para finalizar sua nova coleção. Num desses dias, no início da noite, recebi uma mensagem em que dizia: “É cansativo receber tantos nãos”. Pouco tempo depois, lá estava ele fazendo piada e contando de um compromisso que surgira em cima da hora.
No último final de semana, na véspera de sua viagem para São Paulo, fomos juntos a uma ball indígena, da qual Sioduhi seria jurado. Perguntei, ao longo do trajeto, se ele não estava esgotado com a correria dos últimos dias. Sua resposta, breve e assertiva, com um pequeno sorriso estampado no rosto, é um perfeito lampejo da pessoa com quem convivi nos últimos meses: “Estou exausto, mas aceitei o convite. É minha gente!”.
O estilista lança sua nova coleção na 55ª edição da Casa de Criadores, que acontece entre os dias 5 e 10 de dezembro de 2024, em São Paulo. Responsável pela abertura do evento, a Sioduhi Studio apresenta “Kahtiridá: Fio da vida”, coleção que busca refletir sobre as possibilidades de cura e resistência em um mundo assolado por catástrofes. Nas criações, ele traz materiais como a fibra de tucum, o algodão emborrachado de seringueira e o tingimento natural com Tecnologia ManioColor, extraída da casca da mandioca.
“Meu trabalho é muito inspirado pelo momento atual que estamos vivenciando. E pelo que nós, indígenas, já passamos, e pelo que estamos preparando para o futuro, com as ações de agora. Isso tudo relacionado às mudanças brutais do mundo. Eu penso que é uma forma de dizer que, mesmo com todas essas brutalidades, continuamos lutando pelo direito à memória e à cura”, diz Sioduhi sobre a nova coleção .
Confira a entrevista na íntegra:
Nonada — Embora seja um desafio muito grande se apresentar, ainda mais no caso de uma pessoa que transita entre universos tão distintos, o que você gostaria que as pessoas que não conhecem o Sioduhi soubessem sobre você?
Sioduhi — Sou o Sioduhi, “neto daquele que está sentado cantando”, na tradução literal. Mas pode ser também “aquele que carrega o espírito do Baiá”, músico e compositor das canções milenares das cerimônias dos povos do Alto Rio Negro. Sou Piratapuya (Waikʉhn), da Terra Indígena Alto Rio Negro. Meu povo compartilha este território com outros 23 povos. Fala-se 18 línguas na região, sendo a tukano, minha primeira língua, uma delas.
Nasci em 1995, na comunidade indígena Mariwá, no Médio Uaupés. Fiz muitas viagens pelo Uaupés e pelo Rio Negro com minha família. Eu acompanhava, constantemente, meus pais no trabalho com a agricultura nas nossas roças de maniva e nas atividades de pesca. Quando eu tinha 5 anos, minha família começou o processo de sair e voltar para a nossa comunidade. A escola mais próxima havia fechado, e tivemos que passar o ano letivo em Iauaretê, um dos distritos de São Gabriel da Cachoeira, município do Amazonas. Iauaretê está localizado na fronteira entre o Brasil e a Colômbia.
Foi em Iauaretê que eu comecei a gostar de moda, antes mesmo de compreender o que ela era. Eu vivia na casa da minha prima, e como minha tia costurava, passei a observar e a gostar. Mas foi somente depois da faculdade que eu tive coragem de correr atrás do sonho e realizá-lo. A mudança para o distrito de Iauaretê foi, na verdade, apenas o começo das múltiplas mudanças que eu vivenciaria. Não só de local, mas também de ter contato com outras culturas — seja na língua, na alimentação, no comportamento, enfim, no modo de ver o mundo.
E tudo isso me fez passar por um processo de depressão. Principalmente quando tive que me mudar para a cidade de São Gabriel da Cachoeira, aos 15 anos, porque fui selecionado no Instituto Federal. Foi nessa idade que me compreendi como uma pessoa de dois espíritos. Os atravessamentos da colonização, da eurocristianização e da militarização me fizerem sentir culpa por um tempo, mas, felizmente, encontrei apoio quando mais precisei.
Nonada — Sua formação acadêmica foi em administração de empresas. Como foi esse período da sua vida?
Sioduhi — Eu me mudei para Manaus para fazer a faculdade de administração. Foi um período desafiador, pois eu tinha apenas uma bolsa parcial de uma faculdade privada. Tive que começar a trabalhar nos primeiros períodos para pagar a faculdade e custos afins.
Admito que não gostava muito, mas hoje o curso faz muita diferença no meu empreendimento, a Sioduhi Studio. Até os 17 anos, minha relação com a língua portuguesa foi marcada por uma certa dificuldade. Foi na faculdade que aprendi, de fato, a falar português. Depois de quatro anos de faculdade, eu volto para São Gabriel da Cachoeira, para contribuir com a mobilização política pela saúde indígena. Lá, trabalhei com advogados, o que me ajudou a aprimorar a escrita.
Já morando em São Paulo, passei por uma fonoaudióloga, para poder compreender melhor a pronúncia da língua portuguesa. Desse modo, a formação, a vivência e a ajuda profissional acabaram melhorando minha comunicação. Hoje, além da língua tukano, utilizo o português, o inglês e o espanhol. Viver entre línguas é uma espécie de agridoce entre a violência e o aprendizado desse mundo que um dia nos colonizou.
Nonada — Quais os maiores desafios de ser um empresário indígena no Brasil, em geral, e na Amazônia, em particular?
Sioduhi — A maior dificuldade é a falta de compreensão de que negócios indígenas precisam de modelos diferentes daqueles criados por não indígenas. Outros desafios são a falta de apoio, com muitos obstáculos para conseguir patrocínios, e as inúmeras questões de logística no Amazonas. O movimento que a Sioduhi Studio faz hoje, por exemplo, é entre Manaus, São Gabriel da Cachoeira, comunidades da Terra Indígena Alto Rio Negro e a Ilha de Cotijuba, no Pará. Por último, é preciso mencionar a baixíssima visibilidade nacional daquilo que é produzido na região Norte do país.
Nonada — O que é moda para você? Por que decidiu apostar na moda?
Sioduhi — Para mim, a moda é um caminho para cocriar outros territórios. Territórios carregados com signos que possam fortalecer as nossas tecnologias originárias. Sobretudo, tendo em vista o contexto de emergência climática. A moda é uma forma de mostrar que os caminhos milenarmente criados pelos nossos ancestrais são regenerativos. Como eu disse anteriormente, a moda foi algo que eu sempre admirei, desde a infância. Mas a forma como eu penso a moda hoje é mais expandida. Principalmente na forma como eu posso contribuir com os meus: pessoas indígenas, nortistas, amazonenses, LGBTQIA+. A Moda de que falo, é a moda com letra maiúscula, a Moda da Cultura e do Comportamento. Esta, sim, pode mitigar os atravessamentos da colonização nos nossos territórios.
Nonada — Como foi sua ida para São Paulo e por que decidiu retornar para a Amazônia?
Sioduhi — Em 2018, decidi ir para São Paulo, para finalmente começar a mudar minha carreira. Foi um período de grande experiência na maior cidade da América Latina. Fui com o objetivo de estudar moda, mas me deparei com o alto custo de vida. E com o alto custo das melhores faculdades de moda do país! Ou seja, era fora da minha realidade. Mas eu não desisti, e passei pela Escola Técnica Estadual Tiquatira, na Zona Leste da cidade.
No entanto, devido à pandemia, não consegui me formar. Com o pouco que aprendi em dois semestres, comecei a buscar conhecimento de forma autodidata e fundei a Sioduhi Studio, em novembro de 2020. No período de três anos morando em São Paulo, a família Santos foi essencial no meu acolhimento e apoio, principalmente com a moradia em Itaquera.
Nesse mesmo bairro, lancei a minha primeira coleção, “Dabucurí”, em 2020. Em 2021, ingressei para o calendário da “Brasil Eco Fashion Week”. E, assim, teve início o processo do meu reconhecimento na indústria da moda. A minha trajetória, desde 2020, tem sido de muita coragem e trabalho. Felizmente, pessoas especiais contribuíram nesta jornada.
Em novembro de 2022, eu decido sair de São Paulo. Um mês antes, eu havia feito uma viagem para visitar minha comunidade de nascimento, fazendo aquele percurso do rio que minha família fazia. Nessa viagem, percebi o quanto a minha ida para São Paulo havia me colocado numa bolha. Eu percebi o quão “fácil” era falar do meu território, do meu povo, estando longe. Há várias camadas e possibilidades de abordagem. Mas eu entendi que eu precisava estar mais perto e sentir esses atravessamentos; estar mais próximo da minha origem e da minha família, para lutar junto com eles.
Por motivos pessoais, em 2023 eu mudei para Rio Branco, capital do Acre. E em setembro de 2023, eu voltei para Manaus. A partir dessa mudança, eu sinto segurança de atuar com moda no Amazonas, e somar junto com todo o coletivo que trabalho atualmente. Nesse mesmo ano, nasce em Manaus a coleção “Amõ Numiã: Ontem, Hoje e Amanhã”, com a união de diversas associações e empresas familiares. Uma coleção que, para além da estética, denuncia a emergência climática e a seca histórica no Amazonas.
Nonada — Quais são as principais ideias que inspiram o seu trabalho? Você poderia falar um pouco sobre os sentidos presentes na sua nova coleção, “Kahtiridá: Fio da vida”?
Sioduhi — Meu trabalho é muito inspirado pelo momento atual que estamos vivenciando. E pelo que nós, indígenas, já passamos, e pelo que estamos preparando para o futuro, com as ações de agora. Isso tudo relacionado às mudanças brutais do mundo. Eu penso que é uma forma de dizer que, mesmo com todas essas brutalidades, continuamos lutando pelo direito à memória e à cura. Estamos celebrando com as tecnologias que restaram após tantos períodos de catástrofes. Períodos, os quais, sempre irão e voltarão. Mas uma coisa é certa: enquanto as ciências indígenas estiverem vivas, vamos continuar segurando o fio da vida.
Nonada — Em sua pesquisa, você desenvolve um dos pilares de sua marca, o conceito de “futurismo indígena”. Você poderia explicar um pouco dessa ideia?
Sioduhi — O futurismo indígena é um conceito criado pela estadunidense Grace Dillon, de ascendência Anishinaabe e europeia, professora no Programa de Estudos das Nações Indígenas, na Escola de Gênero, Raça e Nações, na Universidade Estadual de Portland (Estados Unidos). O pensamento do futurismo indígena é a compreensão de que, para os povos originários, o apocalipse já aconteceu, e o que resta é continuar criando um futuro, mantendo as memórias do passado vivas e vivendo o presente de forma resiliente.
Nesse lugar do futurismo, está inserida a manutenção das artes e tecnologias milenares, principalmente com o uso de ferramentas que temos disponíveis atualmente, como é o caso da moda — o que possibilita a criação de novos signos, objetos e interpretações.
Em minha pesquisa, defendo que a forma usada por povos indígenas para transmitir seus ensinamentos relaciona tradição e inovação, no sentido circular em que o passado, o presente e o futuro são construídos simultaneamente. Dessa circularidade surgem formas de pensar uma economia com foco na sustentabilidade, algo fundamental diante das crises que o planeta atravessa.
Nonada — Qual a diferença dessa coleção para as anteriores? O que é diferente e o que se mantém como uma marca do seu trabalho?
Sioduhi — A coleção atual traz mais cores vivas do que as anteriores. Em relação à paleta, talvez ela tenha dado um passo atrás para se conectar com a coleção inicial, “Dabucurí”, com uma linguagem futurista aprimorada. Além disso, a coleção traz bordados, como o da borboleta azul (momoarã) e o da cobra canoa (pamʉrɨ yuhkʉsʉ) do Alto Rio Negro. Mas a coleção acaba se conectando, de uma certa forma, com as anteriores. Ela é uma continuidade. Mantém-se, por exemplo, a fibra de tucum, o algodão emborrachado de seringueira e o tingimento natural com Tecnologia ManioColor, extraída da casca da mandioca.
Nonada — Nos últimos anos, houve um aumento muito expressivo da presença indígena e amazônica em grandes exposições de artes visuais, no Brasil e em outros países, como na última Bienal de Veneza. Como você pensa a relação da moda com as outras artes?
Sioduhi — Esse é um movimento importante e bastante recente nas artes visuais. Deve ter, no máximo, uma década. Na moda, esse movimento é ainda mais recente. E a moda é uma forma de arte visual. É uma forma de criar novas imagens. Como eu faço um trabalho bastante experimental, eu acabei entrando de forma orgânica nesse universo, e hoje participo de exposições e curadorias. Eu vejo esses diálogos como uma forma de ampliar o alcance do que eu crio, contribuindo para a moda, para a Sioduhi Studio e para a minha comunidade. Eu estou muito interessado também nas possibilidades audiovisuais, com a criação de fashion films que integram as minhas coleções.
Nonada — Na literatura sobre os povos indígenas amazônicos, nos textos escritos por indígenas e não indígenas, a questão do “corpo” aparece como um fator central. Hoje, estamos vendo uma explosão de manifestações culturais que estão mudando a imagem do que é ser indígena na Amazônia. Eu penso, por exemplo, no seu trabalho, no trabalho das artistas Uýra Sodoma e Auá Mendes, no Coletivo Miriã Mahsã (coletivo de indígenas LGBTQIA+ do Amazonas, que organizou a primeira ball indígena da Amazônia), dentre muitas outras iniciativas. Como você enxerga essa mudança nos debates sobre os corpos indígenas? E como a moda e o vestir podem ser plataformas capazes de impulsionar esses debates para mais pessoas?
Sioduhi — O corpo indígena precisa de dignidade como qualquer outro corpo. No processo de colonização, os corpos homoafetivos foram atravessados pela violência. Principalmente quando se trata do direito à memória e ao afeto. Ser uma pessoa dois espíritos, como no meu caso, tem uma vulnerabilidade muito maior do que quando se compara com uma pessoa que é cisgênero. Hoje, minha contribuição com a comunidade à qual pertenço é levá-la junto comigo no processo criativo. Ou seja, representatividade na passarela e fora dela. Lutar em coletividade, principalmente com o Miriã Mahsã, coletivo do qual eu sou membro. Falar sobre essa pauta é algo bastante recente. Deve ter no máximo cinco anos, pelo menos no Amazonas e no Alto Rio Negro. Então, admito que ainda estamos tateando, falando mais de saúde mental do que diretamente sobre gênero e sexualidade.
Nonada — Quem não atua no mercado da moda, talvez não faça ideia do imenso processo por trás de um desfile que acontece em poucos minutos. Uma característica muito marcante das suas falas é a forma como você exalta as pessoas que trabalham com você.
Sioduhi — Sou um grande admirador das pessoas que trabalham, direta e indiretamente, na Sioduhi Studio e em seus projetos. Porque aprendi que tudo que eu crio e mostro para o mundo é oriundo de muitas mãos habilidosas. Desde a criação, modelagem, corte e costura, acabamentos, manualidades, fotografia, direção de arte, styling e outras áreas. Por isso, sempre falo que as pessoas da indústria da moda precisam entender — para ontem! — que não se trata de uma marca ou de um diretor criativo apenas, mas de todas as pessoas envolvidas na cadeia de produção. A moda é um espaço coletivo e interdependente de vários agentes. E isso precisa ser comunicado para as pessoas urgentemente. Isso se chama transparência e responsabilidade coletiva.
Nonada — Quais as suas expectativas em relação à abertura da Semana de Moda da Casa de Criadores? E, para finalizar: quais os seus planos para 2025?
Sioduhi — Eu espero que a nossa abertura da Semana de Moda da Casa de Criadores seja um momento importante para as pessoas do Norte e do Amazonas, para mostrar outras possibilidades de construir moda na região. Em especial para nós, pessoas indígenas. Para 2025, quero continuar fortalecendo comercialmente a Sioduhi Studio, aprimorar as pesquisas já existentes e desenvolver outras para aplicar na marca. Quero aumentar os impactos positivos dos agentes que estão atuando direta e indiretamente na produção, principalmente aqueles que trabalham na moda autoral amazonense. Por fim, quero ampliar a participação em eventos de moda e comunicação e, quem sabe, realizar um desfile internacional. A Sioduhi Studio busca ser um espaço de celebração das diferentes formas de resistência dos povos, indígenas e não indígenas, que vivem nas cidades e florestas amazônicas. A cultura nortista, assim como a cultura do restante do Brasil, é beneficiada pelas tecnologias originárias todos os dias, mesmo quando não reconhece.
* O jornalista viajou para Manaus (AM) com uma bolsa da Wenner-Gren Foundation for Anthropological Research.
Leonardo Nascimento
Leonardo Nascimento (1989) é pesquisador, jornalista, mestre e doutorando no Programa de Pós-graduação em Antropologia Social do Museu Nacional (UFRJ). É graduado em comunicação social (jornalismo) e em cinema e audiovisual pela Universidade Federal Fluminense. Sua pesquisa busca refletir sobre as fronteiras e ressonâncias entre os campos da antropologia, da política e da arte.