Noel Rosa: um quase médico predestinado ao samba

Ilustrações: Antoni Martins (Dão)

Ele é o retrato da boemia carioca. Compositor genial, samba na ponta da língua, sempre pronto a transformar o cotidiano em melodia. Eternizado com uma estátua sua em Vila Isabel, lugar ao qual se orgulhava de pertencer, o compositor brasileiro completaria hoje o centenário de nascimento.

Nascido a fórceps, literalmente, em 11 de dezembro de 1910, Noel Medeiros Rosa carregou durante toda a vida o defeito no maxilar, resultado do uso do instrumento. Essa é sua maior característica e motivo de seu extrema timidez.

Por pressões familiares, iniciou a faculdade de medicina, que abandonou seis meses depois, com a declaração: “como médico, eu jamais serei um Miguel Couto. Mas quem sabe não poderei ser o Miguel Couto do samba?”. Noel sabia onde era seu lugar, e ele não era com um bisturi na mão.

Seu primeiro grande sucesso – o samba Com que roupa? – é uma prova de que tudo dá samba. Quando Noel era jovem e combinou uma saída com os amigos, não imaginou que sua mãe esconderia todas as suas roupas, para impedir o filho de fazer farra. Os amigos, então, ouviram a clássica pergunta quando foram apanhar Noel em casa. Jamais perdendo a desenvoltura, o sambista transformou a cena em uma das suas mais famosas músicas.

Motivo para samba também foi a sua briga com Wilson Batista, compositor de Lenço no pescoço. A canção de Wilson identificava o samba com a figura do malandro preguiçoso. Uma verdadeira ode à vagabundagem estereotipada. Noel não concordou com a apologia à malandragem e sua associação com o samba e  lançou, então, Rapaz folgado, em que mandava Wilson tomar jeito e arrumar um trabalho. Mocinho da VilaConversa fiada, de Wilson, e Feitiço da VilaPalpite infeliz, de Noel, deram continuidade à discussão.

Ao que parece, a vitória do embate era de Noel. Sem mais recursos, Wilson apela para o ataque ao defeito físico de Noel e compõe Frankenstein da VilaTerra de cego. Noel encerra a disputa ao adaptar a melodia de Terra de cego a uma letra dedicada a um antigo amor, sob o novo nome de Deixa de ser convencida.

Em 1934, o compositor descobre que tem tuberculose nos dois pulmões, consequência da vida desregrada que vivia, com uso constante de álcool e cigarros. Casou-se, meio a contragosto, com Lindaura Martins, que assumiu o sobrenome do marido. Junto com o casamento, veio a notícia de que Juraci Correa de Moraes, a Ceci, uma prostituta por quem Noel era apaixonado, envolvera-se com Mario Lago.

Cada mais debilitado com a doença, o sambista muda-se com a esposa para Belo Horizonte, em que até a carta de consulta ao médico é feita em versos:  “Já apresento melhoras/Pois levanto muito cedo/E deitar às nove horas/Para mim é um brinquedo/A injeção me tortura/E muito medo me mete/Mas minha temperatura/Não passa de trinta e sete/Creio que fiz muito mal/Em desprezar o cigarro/Pois não há material/Para o exame de escarro”.

Pensando estar curado, Noel retorna ao Rio, à sua tão amada Vila Isabel, onde faleceu em 1937, aos 26 anos, de tuberculose. O compositor deixou mais de 250 sambas, diversas amantes, uma viúva e nenhum filho.

Compartilhe
Ler mais sobre
Processos artísticos Resenha

Em show autobiográfico, Caetano endossa “Fora, Bolsonaro” do público

Beta Redação Culturas populares Entrevista Processos artísticos

“Tive que derrubar um mito por dia”, diz compositor que quebrou tabus no carnaval carioca

Um comentário em “Noel Rosa: um quase médico predestinado ao samba

  1. oi sou wilson batista de poa rs por conhecidencia ou nao sou sambista tambem toco cavaco e tenho um grupo de samba, PARABENS, nao sabia o motivo q meu pai tinha posto este nome em mim antes de ter seu ultimo filho q sou eu,meu pai segundo os muitos amigos boemios q tinha, era amante d samba e pq na parte da minha familia e de musicos tambem. visite wilson-do-cavaco (orkut) ou ligue 911 529 72 para saber e se comunicar com a banda simples razao (samba de raiz )

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *