Conselho Estadual de Cultura se manifesta contra os ataques ao Carnaval de Porto Alegre

Foto: Gisele Endres/Nonada

O Conselho Estadual de Cultura do RS (CEC) se manifestou nesta semana contra “o grave momento no que concerne à gestão democrática de políticas culturais”. A manifestação ocorre após a quadra da Imperadores do Samba ter sido interditada pela Justiça a pedido do Ministério Público. A instituição alegou que a escola teria permissão para utilizar a quadra para atividades exclusivas do Carnaval. O CEC pede que as áreas ocupadas pelas escolas sejam declaradas como sede de Centros Culturais do Samba, com intuito de garantir a permanência das escolas em seus locais.

Desde o começo do ano, o Carnaval, um dos principais elementos da cultura negra em Porto Alegre, tem sido negligenciado pela gestão de Marchezan, que pela primeira vez desde os anos 1960 não destinou recursos ao evento. Na próxima sexta (21), a Imperadores realiza um ato-show de resistência na Esquina Democrática, às 18h.

 

NOTA OFICIAL DO CONSELHO ESTADUAL DE CULTURA

Conselho Estadual de Cultura do Rio Grande do Sul – reunido no dia 13 de julho de 2017, depois de analisar detidamente os graves acontecimentos que envolvem a cultura do carnaval no Estado – vem tornar pública sua posição acerca do tema.

O Conselho Estadual de Cultura entende que as entidades carnavalescas possuem relevante dimensão cultural, inclusive para aqueles que afirmam que o carnaval representa “uma despesa ao erário público” e que sua não realização levará mais dinheiro para a saúde, ignorando que a prevenção a muitas patologias mentais e fisiológicas se dá exatamente por meio da canalização da energia dos seres humanos que vivem à margem de todos os processos de riqueza ou distribuição de renda; nestes tempos de crises nos últimos anos tem sido ignorado o esforço de tantos que passam tanto tempo construindo alegorias, fantasias, ritmos e bailados identificados com suas histórias seus mitos e ideais;

Conselho Estadual de Cultura do Rio Grande do Sul entende que o carnaval é o agente da cidadania e não objeto. Logo os carnavalescos possuem direitos a ter direitos respeitados. Os bastidores em termos do trabalho nas oficinas de arte por meio de ferreiros, carpinteiros, marceneiros, aderecistas, alegoristas, figurinistas, pintores, bordadeiras, desenhistas, costureiras, iluminadores, sapateiros, soldadores, eletricistas, escultores de isopor e de espuma, chapeleiros, secretarias, telefonistas, grafiteiros, engenheiros e arquitetos. Sem contar cozinheiras e auxiliares de serviços gerais. Nas quadras (lugar de ensaio) há bilheteiros, seguranças, garçons, copeiros, cantores, instrumentistas e recepcionistas, são atores e atrizes componentes culturais que por princípios agem em defesa e respeito ao bem maior deste patrimônio imaterial;

Nesta perspectiva, o Conselho Estadual de Cultura do Rio Grande do Sul não pode se omitir frente a este grave acontecimento, mormente no que concerne à gestão democrática da politica cultural que deve sim ser incentivada para proporcionar o acesso da população de forma ativa e criativa, propõe que:

(1) O samba patrimônio imaterial da humanidade praticado pelas Escolas de Samba seja respeitado no âmbito de todo o Estado do Rio Grande do Sul.

(2) Áreas ocupadas por Escolas de Samba sejam declaradas pelos Executivos Municipais como sede de Centros Culturais do Samba, com intuito de garantir a permanência das escolas em seus locais.

“Os cientistas dizem que os humanos são feitos de átomos, mas um passarinho contou que somos feitos de histórias.” (Eduardo Galeano)

Antônio Carlos Côrtes
Presidente do Conselho Estadual de Cultura do Rio Grande do Su

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Nortista vivendo no sul. Escreve preferencialmente sobre políticas culturais, culturas populares, memória e patrimônio.
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