Baronesa vai na contramão de representações hegemônicas sobre periferia

por Laura Galli

Com sala lotada na Cinemateca Capitolio, Baronesa voltou a cartaz em Porto Alegre na última quinta-feira. A diretora do filme, Juliana Antunes, esteve na cidade especialmente para sessão especial comentada. Baronesa é um filme que fala de mulheres, amigas e vizinhas que vivem na periferia de Belo Horizonte. São as protagonistas Andreia, que planeja sair dali, construir a própria casa e fugir da guerra do tráfico, e Leid, que junto dos filhos espera o marido que está preso. O filme mostra seu dia-a-dia e as relações na comunidade. São mulheres que sentem e refletem sobre sua própria realidade – o tráfico, a prisão, a moradia, o prazer, os filhos.

É, ainda, uma história contada pelo olhar de outra mulher, a diretora vinda do interior de Minas Gerais para a capital, com uma equipe majoritariamente de mulheres. Percebendo a quantidade de bairros de periferia de Belo Horizonte com nomes femininos, Juliana Antunes teve aí o ponto de partida para a realização do filme. Conforme ela conhecia a realidade desses bairros, o argumento inicial, que era falar das vidas de mulheres de periferia a partir do universo dos salões de beleza, foi se modificando. Juliana passou a morar na comunidade de Vila Mariquinhas, se integrando àquela realidade e à rotina de Andreia e Leid, e o filme foi sendo escrito diariamente com a equipe e principalmente com as atrizes-personagens. A vida na favela foi também parte do processo de Juliana como diretora, lidando com a guerra do tráfico e as dificuldades de gravação impostas pelos maridos, namorados e irmãos das mulheres.

Foto: Vitrine Filmes

Fruto de seis anos de trabalho, Baronesa traz a vida na favela de um ponto de vista interno, com naturalidade e uma crueza às vezes brutal. Sem fetichizar a guerra, a violência ou a pobreza, o filme traz à tela o comum de maneira profunda e sensível, o que foi possível graças ao mergulho realizado pela equipe e às muitas e muitas horas de filmagem, como comentado pela diretora no debate. Na contramão de representações hegemônicas sobre periferia que tratam as favelas e as pessoas como objetos, Baronesa é um filme político, na fronteira entre o documental e a ficção, trazendo mulheres profundamente humanas e agentes de suas próprias histórias.

Premiado em Tiradentes, Havana, Mar Del Plata e outros festivais, o filme segue em cartaz na Cinemateca Capitólio até quarta-feira dia 04 de julho. Frente a tantos ataques à cultura em âmbitos nacional, estadual e municipal, ir ao cinema também se torna um ato político. Além da magia da sala escura, fortalece a produção cinematográfica nacional.

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