Unimúsica 2020 traz apresentações de 25 mulheres instrumentistas

Nas mãos de mulheres das mais diferentes vivências, instrumentos tão diversos como viola, sopapo, flauta transversal e acordeon transformam potencialidades em força motriz. Na noite desta segunda-feira (14), as artistas Alzira E, Lívia Mattos, Nina Fola, Gabriela Machado e Josyara, cada uma com seu instrumento, abriram o projeto Unimúsica 2020 com uma versão única de “Porto das Flores”, de Rosinha de Valença. 

Ao longo de toda a semana, a união de mais artistas vai possibilitar novos arranjos e novos encontros da Música Popular Brasileira.  Palco de grandes apresentações da MPB em Porto Alegre, o Unimúsica, iniciativa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, está sendo realizado online neste ano de pandemia de Covid-19. Com o nome Forrobodó, o festival ocorre até sexta, 18 de setembro, sempre às 20h no Facebook e no Youtube da Ufrgs TV e da Difusão Cultural da Universidade. 

O evento é a oportunidade para conhecer artistas brasileiras de variadas tradições, gerações e referências musicais. Todas são mulheres que tocam. Mulheres instrumentistas, virtuoses, musicistas ou artistas da canção acompanhadas de seus instrumentos. A seleção inicial incluía 100 artistas, escolhidas pelas curadoras Ana Fridman, Ana Laura Freitas, Lígia Petrucci, Marta Schmitt e Nanni Rios. “Quando fizemos essas primeiras listagens e percebemos os trabalhos sólidos e qualificados de mulheres se dedicando aos seus instrumentos, teria que ter um Unimúsica de 365 dias para dar conta de dar visibilidade aos trabalhos”, ressalta a curadora Ana Laura Freitas.

Ouça a entrevista completa com Ana Laura Freitas:

Para dar forma a esse grande conjunto, a equipe curatorial optou por um formato misto, mesclando a participação ao vivo das convidadas com a exibição de performances solo pré-gravadas pelas artistas especialmente para o Forrobodó.  “São universos múltiplos a cada noite. Fizemos combinações, incluindo aproximações e contrastes que gostaríamos de ver. O resultado é bem rico, justamente porque é muito diverso. Tem mulheres solistas, mulheres compositoras, mulheres que cantam e tocam, mulheres se relacionando com seus instrumentos nas mais diferentes formas”, comenta Ana Laura.

Entre as artistas, o público vai poder conhecer ou se reencontrar com nomes como Natália Carrera, produtora e guitarrista dos últimos dois álbuns de Letrux, Gabriela Vilanova, única mulher negra da Ospa, Carol Panesi, que toca violino, piano e flugelhorn (da família dos trompetes). Há também participação especial de musicistas da Argentina, principalmente no bandoneon, instrumento que ainda é predominantemente masculino, conta a curadora.

Os repertórios contemplam perspectivas muito diversas, incluindo peças canônicas de tradições populares e da música de concerto, bem como composições próprias, algumas improvisações e duas estreias de obras que foram criadas especialmente para o festival: “Forrobodó na Floresta”, de Carol Panesi, e “Forrobodó na Quarentena”, de Denise Fontoura.

No site oficial, é possível acessar as plataformas de transmissão e os podcasts com as artistas. 

Confira a lista completa de artistas participantes:

Alzira E

Compositora, cantora, violonista e baixista. Nascida em Campo Grande, em uma família de artistas, os Espíndola, radicou-se em São Paulo, dando início a sua carreira solo. Estabeleceu ao longo de sua trajetória parcerias com nomes como Itamar Assumpção, Alice Ruiz, o poeta arrudA e Tiganá Santana; teve suas composições gravadas por artistas e intérpretes como Ney Matogrosso, Virginia Rodrigues, Fabiana Cozza, Lucina e muitos outros. Apresenta hoje uma discografia de 14 álbuns, em sua maioria autorais.

Gabriela Machado

Flautista “crossover” atuante na área popular e erudita, transita tanto nas formações camerísticas quanto nas orquestrais. É solista do Quarteto Quadrantes, do Quinteto Pauliceia e do trio Choro de Bola, além de ter integrado durante 19 anos o trio Choronas, com 3 discos gravados no período. Na área sinfônica participou de várias orquestras, como a Sinfônica de Santos e Banda Sinfônica do Estado de São Paulo. Atualmente compõe o Camaranova, grupo camerístico em fase de gravação do seu primeiro álbum.

Josyara

 Nascida em Juazeiro, no interior da Bahia, Josyara traz em suas composições um olhar sensível sobre seu cotidiano e sua história, embaladas por um violão percussivo e potente. Seu segundo disco, Mansa fúria (2018) traz um retrato da cantora, compositora e violonista baiana em seu percurso sertão/litoral/metrópole. Em 2020 lançou o álbum Estreite, em parceria com seu conterrâneo e amigo Giovani Cidreira.

Lívia Mattos

 Acordeonista e compositora, atua na cena musical e circense há 17 anos, seja como instrumentista – acompanhando artistas como Chico César, Rosa Passos, Badi Assad –, seja com o seu trabalho autoral, circulando Brasil adentro e afora. Apresentou-se em festivais internacionais, foi solista convidada da Orquestra Sinfônica da Bahia, selecionada pelo programa OneBeat, da Found Sound Nation. Seu álbum Vinha da ida foi lançado em 2017, pelo Natura Musical.

Nina Fola

 Percussionista e cantora, é integrante do grupo AfroEntes e mestra em Sociologia pela UFRGS. É vinculada à tradição afro-gaúcha e traz uma prática musical integrada a suas vertentes de pesquisa, espiritualidade e militância.

Ana Karina Sebastião

Transita pelos mais diversos gêneros musicais, tendo tocado ao lado de grandes nomes da música nacional e internacional como Gal Costa, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tony Lindsay, Elza Soares, entre outros. É atuante nos principais bares e casas de shows de São Paulo e do Brasil, enquanto também desenvolve seu próprio trabalho autoral. Participou de grandes festivais e shows pelo Brasil e pelo mundo. Soma-se a sua trajetória o feito de ser a primeira mulher brasileira a ter um baixo signature, o Black Gold, lançado em 2019 pela Tagima.

Ange Bazzani

Nascida em Bucaramanga, na Colômbia, já atuou como segundo fagote e contrafagote da OSESP. Em 2016, foi aprovada como fagotista da Orquestra Sinfônica Nacional da Colômbia e, em 2017, na OSMG. No mesmo ano, foi selecionada para integrar a OSPA e se tornou a primeira mulher a ocupar o cargo de fagote solista em quase sete décadas de história orquestra.

Lilian Nakahodo

Pianista, compositora, produtora e pesquisadora piracicabana (SP) radicada em Curitiba, transita entre o instrumental, o experimental e o eletrônico com influências do jazz brasileiro e das artes sonoras contemporâneas. Formada em Produção Sonora e mestre em teoria e composição pela UFPR, toca e produz em diversos projetos que vão do dub ao rock e atualmente também se dedica à produção fonográfica e autoral fazendo uso de piano preparado.

Maria Beraldo

Compositora, produtora, cantora, clarinetista e guitarrista. Em 2018 lançou seu primeiro álbum solo “Cavala”. Com esse trabalho foi indicada aos prêmios APCA, Multishow, Prêmio SIM SP e Woman’s Music Event, no qual foi premiada como melhor instrumentista. Em 2019 foi indicada ao Prêmio Shell de Teatro pela direção musical e arranjos (com Mariá Portugal) da montagem brasileira de Lázarus, de David Bowie e Enda Walsh, dirigida por Felipe Hirsch.

Simone Sou

Baterista e percussionista nascida em São Paulo, é integrante da banda Orquídeas do Brasil e do Duo com Oleg Fateev, acordeonista da Moldávia. Acompanha hoje Chico César, Badi Assad e Iara Rennó e já tocou com nomes como Os Mutantes, Zélia Duncan, Zeca Baleiro e Guilherme Kastrup. Tem dois discos autorais lançados, onde apresenta sua sonoridade de vivência na música do mundo. Ministra aulas sobre ritmos brasileiros em festivais na Inglaterra e Holanda.

Carol Panesi

Arranjadora e multi-instrumentista carioca, especializada em instrumentos como o violino, o flugelhorn e o piano. Integrou durante treze anos a Itiberê Orquestra Família e Itiberê Zwarg & Grupo. Deu início a sua carreira solo em 2017, com o disco Primeiras impressões, que conquistou o Prêmio Profissionais da Música 2018, na categoria autora, e o Prêmio MIMO Instrumental 2018.

Cristina Braga

Harpista e cantora carioca, tem sido grande responsável pela divulgação da harpa no Brasil, e de uma harpa brasileira no mundo. Transita entre diversos gêneros musicais, participando de inúmeros projetos de música clássica e popular com a mesma desenvoltura. Participou de discos de Gal Costa, Marisa Monte, Chico Buarque, Zeca Baleiro, entre outros. Colocou harpa no rock nacional acompanhando os Titãs, e participou de apresentações ao lado de Lenine. É professora de harpa na UFRJ e tem 17 discos gravados.

Gabriela Vilanova

Violista da OSPA desde 2008, estudou viola clássica na UFRGS e em Kassel, na Alemanha. Frequentou oficinas de choro e samba como instrumentista, cantora e compositora, estudando com mestres como Luiz Machado e Elias Barbosa. Junto às orquestras acompanhou músicos como Geraldo Flach, Altamiro Carrilho, Michel Legrand, Gilberto Gil Caetano Veloso, Edu Lobo, Hamilton de Holanda e Bibi Ferreira. Foi membra do sexteto Camerata Pampeana, conquistando prêmios como Açorianos e Natura Musical.

Léa Freire

Flautista, pianista, compositora e arranjadora, iniciou seus estudos de piano aos 7 anos. Gravou seu primeiro disco autoral, Ninhal, em 1997. No mesmo ano, fundou o selo Maritaca, dedicado à produção de música instrumental brasileira. Gravou álbuns em conjunto com músicos como Bocato, Amilton Godoy e Harvey Wainapel; fundou o grupo Vento em Madeira em 2009, com o qual gravou três CDS, e realizou várias turnês com seus discos nos Estados Unidos, Portugal e Inglaterra. Atualmente está lançando CinePoesia, disco solo, desta vez ao piano.

Maria Portugal

Baterista, produtora e compositora, formada em composição pela UNESP, Mariá tem 20 anos de carreira. Já se apresentou e gravou ao lado de nomes como Arrigo Barnabé, Elza Soares, Benjamin Taubkin, Ava Rocha e Fernanda Takai. Além de integrar a Quartabê, dedica-se à criação de trilhas originais para dança, teatro, vídeo e cinema. É a 13ª improvisadora em residência em Moers, Alemanha. Atualmente produz seu primeiro disco solo, a ser lançado em 2020.

Bianca Gismonti

Pianista e compositora, conduz paralelamente a sua carreira solo, o Bianca Gismonti Trio e o Duo Gisbranco, com a pianista Cláudia Castelo Branco. É filha do violonista, pianista e compositor Egberto Gismonti, com quem já se apresentava internacionalmente aos 15 anos. Tem sete discos gravados.

Clarice Assad

Compositora, pianista, arranjadora e cantora. As composições de Clarice incluem peças para uma variedade de instrumentações, incluindo obras para piano, violão, bem como um repertório para conjuntos de câmara e obras orquestrais. Faz parte de uma família de músicos cuja contribuição para a cultura brasileira é de grande relevância: é filha de Sérgio Assad e sobrinha de Odair e Badi Assad.

Denise Fontoura

saxofonista, flautista e cantora nascida em Porto Alegre. Possui um forte vínculo com cena jazzística de Viena, onde residiu durante muitos anos, integrando o Alegre Corrêa Sexttet, conjunto com o qual gravou 7 discos. Já tocou com nomes como Hermeto Pascoal, Airto Moreira e Flora Purim, Lionel Richie, Ana Carolina, João Donato e Toninho Horta. Foi uma das primeiras saxofonistas de Porto Alegre e está lançando seu segundo disco solo

Lucinha Turnbull

Cantora, compositora e guitarrista nascida em São Paulo. Foi a primeira mulher a tocar guitarra no Brasil, tendo colaborado com Rita Lee em diversas formações e participado de discos como Refavela, de Gilberto Gil, e Cinema Transcendental, de Caetano Veloso.

Navalha Carrera

Guitarrista, baterista e produtora, é bastante conhecida por suas colaborações com Letícia Letrux. A artista gravou e produziu os discos Letrux em noite de climão e Letrux aos prantos. Atualmente, é compositora de trilhas sonoras.

Ayelén Pais

Bandoneonista, arranjadora e professora. Nascida em La Pampa, reside hoje em Buenos Aires. Além de compor o Asato-Pais Duo com o pianista Cristian Asato, integra duas das orquestras de tango mais famosas da cena atual, a Orquesta Típica Sans Souci y a Romántica Milonguera. Já se apresentou em palcos da Europa, Estados Unidos, México e Brasil em diferentes formações e trabalhou com grandes artistas como Susana Rinaldi, Nacha Gevara e Osvaldo Piro.

Joana Queiroz

Musicista, arranjadora e compositora carioca, tem como principais instrumentos o clarinete, o clarone e o saxofone. Tem participado de diversos projetos no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte e em São Paulo ao longo da última década, principalmente no meio da música instrumental. Integrante do grupo Quartabê, atuou durante quase dez anos na Itiberê Orquestra Família. Tem cinco discos gravados.

Maíra Freitas

Maíra graduou-se em música clássica pela Escola de Música da UFRJ, com ênfase em piano. Como concertista já tocou em palcos do Brasil e do exterior. Lançou em 2015 seu segundo disco, Piano e batucada, com repertório majoritariamente autoral e popular, unindo sua formação erudita à tradição do samba. É filha do cantor, escritor e compositor Martinho da Vila.

Renata Rosa

Cantora, compositora, rabequeira e atriz paulista radicada em Pernambuco, tem percorrido o mundo em um fluxo de turnês e prêmios internacionais. Realizou criações especiais para o Théâtre de la Ville de Paris, para o Museu do Louvre e para as Olimpíadas do Rio 2016. Recebeu o Choc de l’Année 2004 do Le Monde – de la Musique por seu disco Zunido da Mata; o Prêmio da Música Brasileira 2009 como Melhor Cantora Regional por Manto dos sonhos. Em 2018 recebeu a nominação para Artista do Ano 2018 no Reino Unido pela Songlines Britânica e teve seu disco Encantações eleito ‘Top of the World 2017’ na Seleção de Sir David Attenborough, diretor da BBC.

Simone Rasslan

Pianista, cantora, atriz, compositora, regente e educadora musical nascida em Dourados e radicada em Porto Alegre. Já compôs e executou trilhas sonoras para diversas peças de teatro, além de idealizar o musical Rádio Esmeralda, juntamente a Adriana Marques e Hique Gomez. Recebeu cinco prêmios Açorianos de Música: Revelação (1998), Disco do Ano, Intérprete, Arranjador e Disco MPB (2012).

Compartilhe
Ler mais sobre
diversidade cultural
Nortista vivendo no sul. Escreve preferencialmente sobre políticas culturais, culturas populares, memória e patrimônio.
Ler mais sobre
Beta Redação Culturas populares Entrevista Processos artísticos

“Tive que derrubar um mito por dia”, diz compositor que quebrou tabus no carnaval carioca