Fotos: Fernando Halal (http://www.flickr.com/photos/fernandohalal)
O projeto Discografia Rock Gaúcho, que desde o ano passado vem resgatando a história da cena roqueira no Rio Grande do Sul com shows na casa noturna Beco, registrou nesta quinta-feira, 26 de maio, um de seus momentos mais marcantes: a volta da formação original do De Falla. A procura por ingressos foi tanta que acabaram sendo realizadas duas apresentações (é verdade que nenhuma começou na hora marcada, mas pontualidade nunca foi o forte dos shows de rock em Porto Alegre).
Logo no início da noite, podia-se notar que o clima no Beco estava um tanto nostálgico. Havia, claro, muita gurizada indie, mods, hipsters e demais habitués da casa, mas a grande maioria do público era formada por gente que já passou dos 30 ou 40 anos – entre eles, lendas como Plato Divorak e Frank Jorge.
Para quem esteve em Marte ou sei lá onde nos últimos anos, o projeto Discografia Rock Gaúcho consiste em reunir uma banda relevante da cena local para tocar seu álbum mais clássico de cabo a rabo, na ordem em que foi gravado, em com a formação que o registrou. Nem era preciso dizer que isso era mais do que suficiente para justificar o hype em cima da apresentação do De Falla; afinal, Edu K (vocal), Castor Daudt (guitarra), Flávio “Flu” Santos (baixo) e Biba Meira (bateria), tocando o debut Papaparty (1987) inteirinho, não é todo dia que se vê.
Pouco depois da meia-noite, Edu K sobe ao palco com seu visual glam/emo/Restart/punk e todas as atenções se voltam para o frontman. Usando bermudas de lycra – “comprei no camelódromo de Floripa, quem quiser mais informações sobe aqui depois e dá uma chupadinha”, disparou – sapatilhas de oncinha e tomando uma mamadeira com sabe-se lá o que, o vocalista deu início aos trabalhos mostrando ser tão porra louca quanto há 20 e tantos anos. Seus comentários e gestos (como ficar enfiando a mão dentro da cueca) são de uma obscenidade hilária, que só constrangem aqueles que estão acostumados com o atual mainstream do comportadinho rock brasileiro. Brincadeiras inocentes perto do que ele já fez no passado.
Na segunda apresentação, mais fãs, menos curiosos e o mesmo repertório. A descontração foi maior, até porque o gelo já havia sido quebrado, e um maluco da plateia que andava pra lá e pra cá com luvas cirúrgicas, resolveu mostrar o porquê da precaução: queria cumprimentar Edu, que a essa altura já havia acariciado bastante as “partes íntimas”.
Não cabe aqui comentar o setlist, até porque ele foi composto pelas músicas do primeiro disco (confira aqui, via Wikipedia, se interessar), mais a empolgante “It’s Fuckin’ Boring to Death”, do segundo álbum. Interessante, sim, é destacar que Papaparty, mesmo tendo sido gravado há 24 anos, soa atual e pesado, algo de que poucas bandas que passaram pela famigerada estética sonora dos anos 80 podem se gabar. É bom lembrar também que em 1987 Faith No More e Red Hot Chili Peppers, que misturavam funk, rap e rock, assim como o De Falla, ainda não estavam no auge, e o Rage Against the Machine sequer havia lançado o primeiro disco.
Várias câmeras indicavam que a gravação dos shows redundará em um DVD, um digno registro desse dia histórico. Histórico, mas não irrepetível: pela excelente aceitação, é bem provável que o De Falla clássico volte de vez à ativa. No cenário atual do rock, um pouco de sem-vergonhice veria bem a calhar.