Com críticas ao governo, setor cultural cobra novo Plano Nacional de Cultura

Com informações da Agência Câmara de Notícias

Em Comissão Geral no Plenário da Câmara nesta segunda-feira (8), artistas e gestores culturais pediram o apoio do Parlamento para a aprovação de políticas públicas de incentivo ao setor e para a reversão do que chamam de “vilanização” da cultura no atual governo federal. Foi apresentada uma agenda prioritária de propostas em tramitação no Congresso a fim de recuperar “perspectivas de futuro” e diretrizes para a retomada da articulação intersetorial da cultura. Organizadora da comissão geral, a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) sintetizou as principais reivindicações citadas.

“Temos que aprovar a Lei Aldir Blanc 2, acabar de regulamentar o Sistema Nacional de Cultura, aprovar a ‘loteria da cultura’ e aprovar a Lei Paulo Gustavo (PLP 73/21) do Senado. Ou seja, vamos continuar na trilha de luta, resistência e avanços”, disse. Ela afirmou que a ideia é refazer o Plano Nacional da Cultura e  recuperar o Ministério da Cultura. “Nós não vamos ficar de apêndice em uma Secretaria Especial de Cultura, pendurados no Ministério do Turismo.”

A proposta chamada de “Lei Aldir Blanc 2” (PL 1518/21) está sendo analisada na Câmara e torna permanente a transferência de recursos federais para a cultura em estados e municípios. Já o projeto de “Lei Paulo Gustavo” (PLP 73/21) é do Senado e libera R$ 3,8 bilhões para amenizar os efeitos negativos econômicos e sociais da pandemia no setor. Nas redes sociais, o secretário especial de Cultura, Mário Frias, e o Secretário Nacional de Fomento e Incentivo à Cultura, André Porciúncula, têm feito uma intensa campanha contra a aprovação da Lei. “Um absurdo que transformará o governo federal num caixa eletrônico de saque compulsório. Essa lei destinará anualmente 4 bilhões de reais para estados decidirem o destino desse recurso. Sou radicalmente contra!”, postou Frias horas antes do PL ser retirado da pauta, no dia 14 de setembro.

Em discurso escrito enviado à Comissão Geral, o presidente da Câmara, Arthur Lira, citou os esforços da Casa para socorrer a cultura no auge da pandemia, como a aprovação da primeira Lei Aldir Blanc (Lei 14.017/20), em junho do ano passado. Reconhecendo o papel do setor para a geração de emprego e renda e a superação da crise econômica, Lira também cobrou do governo federal o envio da proposta de renovação do atual Plano Nacional de Cultura, que expira em dezembro de 2022.

A Comissão Geral foi organizada para discutir as perspectivas do setor e também lembrar o Dia Nacional da Cultura, comemorado em 5 de novembro. Porém, o presidente da Associação dos Produtores de Teatro (APTR), Eduardo Barata, disse que a pandemia e a perseguição do setor pelo governo federal não permitem celebrar a data. “A cultura foi completamente paralisada: mais de 6 milhões de trabalhadores das artes e do entretenimento desempregados, um milhão de empresas de cultura sem faturamento e 500 espetáculos teatrais parados em todo país. E agora, no início da nossa retomada, temos centenas de proponentes sem autorização da Secretaria Especial da Cultura para executar os seus projetos artísticos e mais de meio bilhão de reais retidos na Lei Rouanet de projetos já patrocinados e com a verba depositada nas contas de captação”, reclamou.

O produtor cultural também criticou a portaria da Secretaria Especial de Cultura, assinada nesta segunda, que proíbe a exigência do “passaporte da vacina” em atrações financiadas com recursos da Lei Rouanet. Segundo Barata, a portaria vai contra as orientações da ciência e afasta o público em momento de retomada dos espetáculos. As deputadas Lídice da Mata (PSB-BA) e Benedita da Silva (PT-RJ) já apresentaram um projeto de decreto legislativo (PDL 978/21) para tentar anular a medida.

Ex-ministro da cultura nos governos Lula e Dilma Rousseff, Juca Ferreira criticou a gestão do governo Bolsonaro, sobretudo em órgãos como Fundação Palmares, Cinemateca Brasileira e Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Nenhum governista participou da Comissão Geral. A audiência de debate sobre a cultura contou com representantes de várias áreas do setor, como teatro, cinema, circo, movimentos sociais e gestores culturais. Por meio de vídeo, o ex-ministro da Cultura, Gilberto Gil, cantou um de seus clássicos: “Viramundo”.

Compartilhe
Ler mais sobre
Comunidades tradicionais Processos artísticos Resenha

Do ventre da árvore do mundo vem “O som do rugido da onça”

Notícias Políticas culturais

Em pronunciamento oficial na TV aberta, Margareth Menezes ressalta papel socioeconômico da cultura