Fotos: Fernando Halal
Em uma de suas músicas mais tocantes, Karina Buhr suplica: “Não me Ame Tanto”. A gente se esforça, mas não consegue. O show dessa baiana criada em Pernambuco é daqueles de encher os olhos. E os ouvidos, claro.
Pela primeira vez em apresentação solo em Porto Alegre – já veio com sua antiga banda, Comadre Fulozinha -, a cantora foi a atração da edição do dia 30 de janeiro do projeto Segunda Maluca, tradicional parceria da Rei Magro Produções com o bar Opinião. Não bastasse o talento e o carisma de Karina, o público ainda foi agraciado com uma brilhante banda de apoio, formada pelos guitarristas Edgar Scandurra (ex-Ira) e Fernando Catatau (Cidadão Instigado e uma pá de projetos e colaborações) e o trompetista Guizado (que já tocou com gente como Elza Soares e Lulu Santos, só para ficar em dois exemplos). André Lima (teclados), Bruno Buarque ( bateria e bases eletrônicas) e Mau (baixo) completam a formação.
Após a abertura de Mari Martinez & the Soulmates, o público se aglomera diante do palco para conferir se a performance da cantora nordestina é tudo isso o que andam dizendo na mídia. Com dois ótimos discos na bagagem – Eu Menti pra Você, de 2010, e Longe de Onde, do ano passado -, Karina mostra imediatamente que tudo o que se fala sobre sua performance é verdade.
O show começa com a dobradinha “Sem Fazer Ideia”/“Cadáver”. Com um vestido brilhante, meias de bolinhas e maquiagem glam, a cantora mostra primeiro um lado mais meigo, quase frágil, cantando suavemente. A “transformação” de Karina vem aos poucos. Ela não mostra tudo o que tem a oferecer de imediato, tanto em repertório como em performance. Deixa as canções famosas para o fim, e vai se tornando agressiva na medida em que o show pede isso. A evolução do espetáculo é perceptível na sequência que inclui a já citada “Não me Ame Tanto”, “Vira Pó”, “Pra Ser Romântica” e “The War’s Dancing Flor”.
Em “Guitarristas de Copacabana”, com Scandurra e Catatau dando um toque quase hardcore ao show, a ínfima parcela do público que ainda não estava aos pés de Karina fica de queixo caído. Mas é difícil tirar os olhos da estrela principal, que alterna movimentos frenéticos com momentos em que canta deitada ou “dependurada” na perna de um dos músicos. Como ninguém é de ferro, rola até uma pausa para pedir uma dose de uísque.
A letra simples e dolorosa de “A Pessoa Morre” é entoada por todos, em um dos grandes momentos de um show que, na verdade, não tem pontos baixos. E, após mais alguns pares de belas canções, chega a um desfecho que remete às raízes de Karina. Em ritmo quase carnavalesco, ela entoa o hit “Eu Menti pra Você”, seguido por “Plástico Bolha” e a irônica “Ciranda do Incentivo”, que encerram a apresentação. O público, extasiado, parece acordar de um transe e cair na realidade. Nem parecia noite de segunda-feira.