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Alass Derivas/Nonada

Mais da metade da população ainda não retomou os hábitos culturais de antes da pandemia

A terceira pesquisa Hábitos Culturais, realizada pelo Itaú Cultural em parceria com a Datafolha, aponta que 62% da população está realizando atividades culturais e de lazer com frequência menor que antes da pandemia. Segundo o estudo, 26% dos entrevistados declararam que retomaram as atividades culturais que mantinham antes da Covid e apenas 12% aumentaram a intensidade de suas atividades. O levantamento ouviu 2.240 pessoas de 16 a 65 anos em todas as regiões, com margem de erro de 3 pontos percentuais para mais ou para menos. 

Os dados podem contribuir para a construção de políticas públicas para incentivar o setor e para a gestão de instituições culturais. Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural, aponta que o momento atual é de hibridismo entre eventos presenciais e online, e que é um desafio para as instituições culturais agora também planejarem e manterem conteúdo virtual. Um dos legados da pandemia é o público que consome esse tipo de conteúdo e que não tem condições de se deslocar até o local. “É preciso trabalhar com a ideia de proporcionar atividades assíncronas também com qualidade. E aumentar ainda mais a qualidade do presencial, até de como era antes da pandemia”, diz. 

Entre as atividades culturais, o hábito de ir ao cinema foi um dos mais afetados. Na mesma pesquisa realizada no ano passado, 59% declararam ter ido ao cinema antes da pandemia. O levantamento feito agora mostra que apenas 26% frequentaram alguma sala nos últimos 12 meses. O fenômeno afetou também as apresentações artísticas de música, dança e teatro. Dos indivíduos ouvidos anteriormente, 39% haviam declarado que tinham frequentado eventos presenciais ou online do gênero antes da pandemia. Nos últimos 12 meses, o índice caiu para 18%. 

Mantiveram-se em estabilidade, dentro da margem de erro, ouvir música online (79% antes da pandemia e 80% nos últimos 12 meses) e consumir  jogos eletrônicos (41% antes, 39% nos últimos meses). Por outro lado, registraram aumento de frequência nos últimos 12 meses atividades como ouvir podcasts, que era hábito de 32% antes da pandemia e passou a constar do cardápio de atividades culturais de 42% dos entrevistados. 

Um dado interessante da pesquisa revela como as bibliotecas aparecem como um dos destinos mais visitados no último ano, ao lado do cinema e exposições. Segundo a pesquisa O Brasil que Lê, realizada no início do ano, 76% dos espaços e projetos com foco em leitura sofrem com falta de verba no país. 

Para Saron, isso é animador, e permite olhar a biblioteca com mais cuidado. “Será que não é um equipamento que deveria ser mais valorizado por todos? Mesmo com um país com tantas desigualdades, a biblioteca é o equipamento cultural mais presente no País. Então como a produção cultural se relaciona com a biblioteca? A biblioteca precisa ser abraçada pelos artistas e pelos produtores de cultura como um ponto central para a fruição, e também um lugar de fazer cultural”, diz. 

Perguntado sobre a importância desse tipo de pesquisa para a área, Saron diz que é fundamental para melhores tomadas de decisões. “ O mundo da cultura precisa cada vez mais buscar evidência, precisamos ter mais informações qualificadas, para que tenhamos processos de decisão ancorados em dados”, aponta.  

Cultura melhorou qualidade de vida de 48% das pessoas

A pesquisa também  investigou o impacto das atividades culturais na saúde mental dos brasileiros. De acordo com o levantamento, houve aumento nos eventos de problemas de saúde mental nos domicílios no comparativo com a pesquisa anterior.

Em 2021, 36% declararam que alguém do domicílio tinha registrado problemas de saúde mental. Na pesquisa atual o índice subiu para 49% dos entrevistados. E 68% informaram que a pessoa afetada procurou ajuda especializada. De acordo com o levantamento, 71% declararam estar muito satisfeitos ou satisfeitos com a sua saúde mental, índice muito próximo do verificado no ano passado (72%).

A cultura teve papel importante na saúde mental para boa parte da população. Entre os entrevistados, 48% responderam que as atividades culturais online contribuíram para a qualidade de vida e 53% afirmaram que a cultura diminuiu o estresse e a ansiedade. 

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Jornalista, Especialista em Jornalismo Digital pela Pucrs, Mestre em Comunicação na Ufrgs e Editor-Fundador do Nonada - Jornalismo Travessia. Acredita nas palavras.
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