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Seu Jorge fala sobre ataque racista em Porto Alegre

O cantor Seu Jorge publicou um vídeo na noite desta segunda-feira (17) relatando um ataque racista que ele sofreu durante um show privado para os sócios do clube Grêmio Náutico União, em Porto Alegre. O caso veio à tona depois que uma sócia do clube denunciou o ataque nas redes sociais, contando que parte da plateia havia chamado o músico de palavras como “vagabundo” e imitado sons de macaco depois que Seu Jorge conversou com a plateia e se manifestou contra a maioridade penal. “Quando eu cheguei atrás do palco, eu começo escutar muitas vaias e xingamentos. E logo por conta disso, eu percebi que não seria possível voltar pra fazer o famoso Bis”, diz o artista no vídeo.

O músico também relatou que os únicos negros no local eram funcionários e estavam proibidos de sequer olhar para o artista. Se Jorge finalizou propondo que todos continuem lutando pelo antirracismo. “Estaremos na luta juntos denunciando e combatendo todo tipo de tipificação da nossa gente e respondendo com excelência, preparo, coragem, sabedoria e diplomacia. Nunca. Jamais nos curvaremos ao racismo e a intolerância seja ela qual for. Não cederemos um milímetro sequer ao ódio e combateremos e cobraremos das autoridades que a justiça prevaleça e os criminosos Sejam devidamente punidos.”

Confira a transcrição completa do vídeo:

“Meu Rio Grande do Sul. República Rio Grandense, terra abençoada de lindas cidades. Fundada em 20 de setembro de 1835 com as palavras em sua bandeira “liberdade, igualdade e humanidade”. Terra de Ronaldinho Gaúcho e Mano Menezes, do grande escritor Luiz Fernando Veríssimo, terra de Renato Borghetti e BB Kremer. Do maior violão do mundo, meu grande ídolo e amigo Yamandu Costa. Terra da maravilhosa e ainda, hoje, na minha humilde opinião de fã, a maior cantora brasileira de todos os tempos. A imortal Elis Regina.

Estado que a minha vida inteira amei me apresentar com a única e exclusiva intenção que é de levar a alegria, a arte, informação e música para o povo. Rio Grande do Sul. Terra de brasileiros citados aqui que me orgulha dizer, que bom que o Rio Grande do Sul é nosso. É do Brasil. Terra do melhor churrasco do mundo e de um mate chamado chimarrão que eu confesso que eu nunca experimentei, mas que eu reconheço como tradição muito, mas muito importante do povo do Sul na cultura brasileira. Ainda vou experimentar um dia. O Rio Grande do Sul é sim um estado extremamente potente e a sua massa trabalhadora é excelente e produtiva e de extrema efetividade assim como todo o resto do país. Eu tenho enorme respeito ao estado do Rio Grande do Sul e toda a sua gente.

Na última sexta-feira, dia 14/10, fui contratado para fazer uma apresentação na cidade de Porto Alegre, no Clube Social Grêmio Náutico União. Era um jantar de gala com pessoas muito, mas muito bem vestidas para aquela ocasião. Um evento reservado somente para os sócios do clube. Particularmente não percebi nenhuma pessoa negra no jantar e as pessoas negras que eu encontrei foram somente os funcionários que uma coisa que me causou muito espécie

Eu ouvi dizer que eles estavam proibido de olhar pra mim ou falar comigo quando eu chegasse no local de show. Mas muito importante que no final do show eu falei com todo mundo e abracei todo mundo e tirei foto com todo mundo. A verdade é que eu estava bastante empolgado. Porque já fazia um certo tempo que eu não me apresentava em Porto Alegre com a minha banda. Me apresentei sim, mas com o meu parceiro e companheiro, amigo, Alexandre Pires, na turnê Irmãos.

Estávamos todos muito felizes de estar em Porto Alegre quando chegou o final do show e eu sair do palco. Quando eu cheguei atrás do palco, eu começo escutar muitas vaias e xingamentos. E logo por conta disso, eu percebi que não seria possível voltar pra fazer o famoso Bis. Mas sozinho retornei ao palco e de maneira respeitosa agradeci a presença de todos, me despedi do público presente e me retirei do local do show.

Na verdade, o que eu quero dizer aqui é que eu não reconheci a cidade que eu aprendi a amar e respeitar. Não era a cidade que eu conhecia, dos inúmeros shows com as bandas Amigas, o Rappa, Farofa Carioca e por aí vai. No Teatro Opinião de Porto Alegre, no festival Atlântica. Na verdade, o que eu presenciei foi muito ódio, gratuito e muita grosseria racista.

Quero aqui agradecer imensamente o carinho e suporte que recebi de toda a gente de Porto Alegre que se sensibilizou com o que aconteceu e ao longo do dia inteiro do dia de sábado, quinze do dez, me mandando mensagens de apoio a mim e de repúdio ao comportamento de alguns no clube, comportamento que contribuiu para a vergonha alheia dos demais presentes.

Também dizer que é muito bom saber que ao menos depois de tudo isso a nossa conexão não se rompeu e nem se romperá e agora estaremos bem mais fortes e unidos cada vez mais na luta intensa contra o racismo. E toda forma de preconceito e toda forma de discriminação.

Ao povo negro do Rio Grande do Sul e de toda a região do Sul, quero dizer que amo todos vocês e admiro e respeito. E digo também que estamos mais unidos do que nunca e que vamos vencer essa guerra que se agrega ao nosso povo, a miséria e a falta de oportunidade no Brasil. Que mata e maltrata nossos filhos, sobrinhos, primos, primas, irmãos, irmãs, todos os dia.

Estaremos na luta juntos denunciando e combatendo todo tipo de tipificação da nossa gente e respondendo com excelência, preparo, coragem, sabedoria e diplomacia. Nunca, jamais nos curvaremos ao racismo e a intolerância seja ela qual for. Não cederemos um milímetro sequer ao ódio e combateremos e cobraremos das autoridades que a justiça prevaleça e os criminosos

Sejam devidamente punidos. A lei é pra ser cumprida e assim conclamam a grande nação afro-brasileira a se integrar aos movimentos sociais brasileiros que existe mais próximos na sua cidade. Com o intuito de sair em defesa de nossos direitos de expressar nossa cultura, direito de existir, direito de realizar nossos sonhos e nossos projetos. Vamos vencer essa guerra de uma vez por todas. Só não venceremos essa guerra.

Se a gente não unir o nosso povo, precisamos nos unir à nossa gente. Vamos proteger a nossa juventude negra que está sendo dizimada todos os dias pelo aparelho do ódio e muitas vezes e na maioria das vezes com a conveniência do Estado que oprime, humilha e violenta as favelas e comunidades carentes de todo o Brasil. É chegada a hora de reunir o maior número de pessoas e afro-brasileiros comprometidos com a nossa causa.

Os movimentos sociais afro-brasileiros estão se organizando em diversas diferentes direções, como a finalidade central, de dirimir o atraso provocado pelo abandono do estado e pelo processo histórico no Brasil. Precisamos buscar recursos para a educação de jovens que trabalham duro para concluir seus estudos.

Sem as condições necessárias para competir no mercado de trabalho. Precisamos promover cursos de preparação para os jovens negros ingressarem nas universidades públicas. O Brasil tem uma enorme dívida com a população afrodescendente e não apresenta nenhum programa efetivo de combate à desigualdade e pobreza da população brasileira. Temos que combater o racismo estrutural e institucional no Brasil. Promovendo meios e ferramentas para que a juventude negra brasileira possa seguir seu caminho.

Uma oportunidade para buscar suas realizações e desenvolver suas capacidades. Estarei com os olhos bem atentos nessa luta combatendo com todo o meu vigor. Esse mal que vem arrastando a nossa gente ao longo da história desse país a muita tristeza e a desolação. Se a justiça devida, com tantos casos de racismo registrado todos os dias na vida do negro brasileiro. Agora somos nós que devemos ir às ruas lutar por nossos direitos e por justiça. Viva o povo brasileiro

Viva o negro do Brasil. Amo minha raça, luto pela cor. E o que quer que eu faça é por nós e por amor. Racionais MCs. Muito obrigado.”

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