Texto Júlia Manzano
Plural, empoderador, democrático e inclusivo. Essas seriam formas de definir a inauguração do Ponto de Cultura Feminista: corpo, arte e expressão. O evento, que ocorreu na última quinta-feira (28), na Casa de Cultura Mário Quintana, se propõe a trabalhar questões relacionadas às mulheres a partir de uma perspectiva cultural e existe há aproximadamente nove meses. A iniciativa é do Coletivo Feminino Plural, grupo que surgiu em 1996 e é composto por mulheres que se identificam com a luta por direitos humanos e cidadania.
Um dos objetivos do Ponto de Cultura é descentralizar as ações culturais que ocorrem na cidade, e o principal local onde essas atividades acontecerão é na Restinga. Lá, serão realizadas oficinas de break dance, saraus literários e debates, voltados para o público feminino. Para Malu Viana (MC Flor do Gueto), moradora do bairro e parte do comitê Gestor do Ponto de Cultura Feminista e representante da Frente Nacional de Mulheres no Hip Hop, o projeto é bem sucedido pois “é feito a partir da construção por parte de coletivos e entidades que já atuam em periferias há anos com atividades específicas, para tentar trazer de volta essa mulher que não consegue, em muitos casos, sair do ciclo da violência”, comenta. A BGirl Céia Santos, também moradora da Restinga e parceira de Malu Viana na Frente Nacional, complementa que um Ponto de Cultura nunca foi tão direcionado para a mulher de periferia, e a Restinga “é um bairro que tem 23 gangues e 28 pontos de tráfico, e o Ponto de Cultura Feminista vai favorecer as mulheres, dando oportunidade para essas jovens fazerem algo diferente”, incluindo a oficina de break dance, que ela mesma ministrará no dia três de junho.
A noite de estreia teve início com a performance Aterro de Andressa Cantergiani. No térreo da Casa de Cultura, dezenas de pessoas se reuniram para observar o estranho cenário. Ajoelhada e com o rosto no chão, uma mulher nua repousava entre sacos de terra. Um a um, eles foram despejados em seu corpo pelos presentes, que lentamente começaram a interagir com o espetáculo. Quando já estava soterrada, uma flor foi posta no topo do monte. Aos poucos, a mulher se desenterra, conectando-se com o público a partir da ideia de renascimento, apesar das dificuldades que lhe foram impostas.
Em seguida, houve o lançamento de um Feminário, onde mulheres e suas diversas reivindicações encontraram espaço de fala no palco do evento. Nele, o Comitê Gestor e o Comitê Gestor Local da Restinga falaram sobre as conexões do Ponto com ONGs e instituições, e também prepararam intervenções poéticas, músicas e o lançamento do almanaque Ah… então eu sou feminista, da Rede Feminista de Saúde e Carta das Mulheres com Deficiência do Rio Grande do Sul, da rede Inclusivass.
Na data de lançamento, dia 28 de maio, também é comemorado o Dia Internacional da Saúde da Mulher, que foi lembrado durante o Feminário, especialmente ao ser associado com as questões do corpo. “Quantas coisas temos que reivindicar para que os nossos corpos sejam respeitados e decidir como ele vai funcionar?”, questiona a coordenadora do Ponto de Cultura Feminista Luísa Gabriela. No momento, além da coordenadora, falaram Malu Viana e B-Girl Céia, representando a Frente Nacional de Mulheres no Hip Hop; Rose Castilhos, da Ilê Mulher; Roberta Mello, da ONG Cirandar; Nathiely Souza e Almerinda Lima, do Comitê Gestor Local da Restinga; a diretora de cinema Mirela Kruel; a coordenadora geral do Coletivo Feminino Plural, Télia Negrão; Carol Santos, Cristina Mazuhy e as outras integrantes do grupo Inclusivass; Clarice Castilhos, da Rede Feminista de Saúde; Margareth Moraes, como representante do Ministério da Cultura; e Leoveral Soares, diretor de Cidadania e Diversidade Cultural da Secretaria Estadual de Cultura.
A programação do Ponto de Cultura Feminista segue durante todo o mês com atividades na Casa de Cultura e na Restinga. Entre mesas de discussão, oficinas e encontros, um item em comum: mulheres compartilhando e produzindo cultura com outras mulheres.
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